sexta-feira, 12 de janeiro de 2018


O Delicioso Sol Esturricante de Burarama Quando Nós Crianças Estávamos Sendo Desenhadas

 

Tendo nascido em 1954 e saído de Cachoeiro de Itapemirim em 1963 com papai, mamãe e irmãos, desde as primeiras memórias até os nove vivi alguns preciosos anos nas férias de janeiro (três meses) e de julho (um mês) em Burarama, onde ficava a casa dos meus avós Perim (ela Grilo) e dos meus avós Gava (ela Costalonga, já falecida). Depois, já de Linhares voltei algumas vezes.

Era casa grande, de muitos quartos, num terreno familiar de encosta onde adiante havia uma cachoeira à qual meus tios tinham dado forma fornecendo cimento. Benevenuto Perim e Estefânia Grilo Perim tiveram 14 filhos, dos quais vivos existiam 13. Dois ficaram solteiros, um juntou-se e não teve filhos, as duas mais jovens não eram casadas então oito tiveram filhos e filhas; quatro moravam em Burarama mesmo, em suas respectivas casas, tia Antônia mais perto, no alto no morro próximo à casa grande de madeira. Todos os primos e primas se reuniam na casa de vovô e de vovó para brincar, era uma algazarra enorme. Na época – como toda criança – não fazíamos conta de nada, era tudo só felicíssima diversão.

No inverno fazia um frio de 5 a 7º Celsius, que no Brasil é temperatura muito baixa: levávamos o termômetro para medir em cima da ponte, onde do riacho subia aquela bruma gelada.

No verão a temperatura ia às alturas, porque Cachoeiro é região quente; e em Burarama, no meio das montanhas, embora mais alto em relação ao nível do mar era um calor “de pocar” (de rebentar; a palavra existe mesmo, vem do tupi: na Rede Cognata seria CALOR DE FOGO), como dizem os capixabas. Fácil, fácil a temperatura devia bater os 43º C. As crianças andavam sempre com o mínimo de roupas; os garotos, mais felizes que as meninas, ficavam sem camisa, só de calção. Fazíamos festa o tempo todo, gastando e esbanjando energia. Éramos dúzias de primos: os de Cachoeiro, os de Burarama, os primos Perim dos netos dos irmãos de vovô, os outros parentes, dúzias e dúzias.

O Sol não era uma maldição, era uma bênção, pois corríamos a pescar nos córregos ou nadar nas cachoeiras, que eram várias, porque os parentes todos tinham uma em cada terra e todos tinham uma convivência que para as crianças parecia maravilhosa e sem conflitos.

Lá estavam nossas almas sendo desenhadas. Quem teve chance igual ou parecida se lembrará para sempre e é como se tivéssemos ganhado um prêmio inesquecível, e foi mesmo o melhor dos presentes, desenhado diretamente por Deus, digamos assim. Aquele foi um quadro divino: a pele queimando no calor esturricante da tarde e nós pulando com tudo na piscina cheia, naquela vida das mais ricas, como deveria ser a de toda criança. Os governempresas deveriam cuidar disso. Quem tem esse tipo de vida dificilmente se desvia na direção-sentido dos erros. Veja no Google Earth as várias fotos.

Vitória, quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006.

 

 
BURARAMA FICA NO MAPA (20º 41’ Sul e 41º 20’ Oeste)
A MARCA DISTINTIVA DE BURARAMA

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