Deus Anda Pela Terra
Por um momento imaginemos que
realmente haja um avatar ou robô de Deus lá em El Dorado, que ele desperte, que
saia dos dois tubos e comece a andar pela Terra (a passos largos, naturalmente,
pois deve ser imenso, já que “enterrou Adão” = PROJETOU AVIÃO com 60 metros de
altura): pense só que enorme constrangimento!
Pois as pessoas podem sonhar ou ansiar
por Deus, imaginando que só o verão no Paraíso, figura magnífica, imponente,
merecedora de toda deferência já que, como diz a Bíblia, “o Céu e a Terra estão
cheios de sua glória”. Outra coisa, MUITO DIFERENTE, é deparar com um avatar
ali na esquina, sem mais nem menos. Imagine a vergonha que passaríamos. Pois se
vamos ser julgados no Paraíso como almas, estamos supostamente desvestidos de nossas
impurezas e imperfeições, mas se vamos ser julgados aqui mesmo, os homens carecas,
as mulheres com celulite, alguns com dentes podres e assim por diante a
vergonha será terrível.
Uma coisa é a promessa solene, mas
vaga, de julgamento após a vida, pois ninguém viu a “vida após a morte” nem
sabe de qualquer julgamento real. Não há testemunhos, só afirmações. Mas se o
avatar de Deus despertar após vários milênios e começar o julgamento real da
humanidade, isso sim, será de assustar, será de apavorar mesmo, porque alguém
iria dizer “na sua cara” o que você fez de errado e isso diante de todo mundo.
“Na tampa”, “na bucha” mesmo, sem qualquer subterfúgio nem chance de escapar ou
negar.
Depois, uma coisa é Deus que não se vê,
sobre o qual se tem curiosidade infinda, e outra muito diferente é um ente que
se vê todo dia: mesmo alguém da Antiguidade que visse TV todo dia acabaria por
se enfadar.
Como lidar com a realidade?
A realidade não somente não é como a
ficção, ela é verdadeiramente aborrecida, pois embora estejamos rodeados de
coisas maravilhosas não damos importância a elas. É preciso sobrevir o perigo
de morte através duma doença muito aguda para acordarmos de nossa indiferença
pelo cotidiano.
Para que a realidade se torne
interessante é preciso converter toda uma vida de 50, 60, 70, 80 anos em duas
horas de filme; ou abordar um ou dois dias dela ou arranjar qualquer artifício
que nos tire da mesmice, já que por mais maravilhoso que seja o evento a
repetição dele cansa. A mente humana se enfada rápido, como reconhece os que
não encontram limites aos seus desejos.
Vitória, terça-feira, 31 de janeiro de
2006.
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