terça-feira, 2 de janeiro de 2018


A Angústia dos Envolvidos com El Dorado

 

Num primeiro momento da existência de El Dorado (acaso se prove real) as filas de candidatos querendo ir lá dariam várias vezes a volta na Terra, pois seria algo diretamente de Deus e não de alienígenas como em AQL Atlântida Queda e Levantamento e nem do filho de Deus Adão como em ASC Adão Sai de Casa. Aqui, não. Aqui é diretamente Deus, Deus mesmo, se é que está lá El Dorado e se é que Deus existe: pelo menos seria um avatar dele, um corpo projetado na sombra do visível.

Então, fosse porque crêem aqueles que crêem, por pura adoração, seja porque estão sendo vigiados por pelo menos cinco bilhões todos e qualquer um que se envolva com El Dorado terá quarenta dedos, porque todo cuidado é pouco, pois todo deslize poderia ser pensado como profanação por uns e por outros. Não seria como descobrir artefatos humanos de um passado “distante”, dois, três, quatro mil anos – são as origens da Criação humana, a interferência de Deus nos planos da Natureza terrestre. Em tese o Dedo de Deus veio à Terra e boliu, mexeu com a evolução local, manipulando-a para seus propósitos, intervindo diretamente nas construções. Porisso as pessoas ficariam verdadeiramente alucinadas. Não seria aquela coisa branda xiita, não senhor, seria algo de verdadeiramente pesado, ditatorial. Se um artefato ameaçasse quebrar haveria uma grita geral atravessando o planeta.

Tanto os crentes quanto os não-crentes ficariam alucinados. As pessoas se oferecendo para trabalhar lá seriam centenas de milhões das mais estranhas profissões e com as mais fantásticas motivações. Até a grama e a lama, as árvores e a água que ocultaram El Dorado (uma das traduções é Cidade Oculta, lembre-se) seriam veneradas, por terem estado onde o avatar dormiu por esses milhares de anos.

Como efeito colateral os satanistas começariam a ser perseguidos em todo o mundo, hostilizados e até mortos. Talvez a democracia recuasse e o planeta entrasse em estado de sítio, correndo os governos nacionais a constituir um governo mundial provisório, que, todos pensariam, deveria ser entregue a Deus.

Em resumo, a angústia seria tremenda, a par de uma alegria indizível e inexcedível. Verdadeira demência histérica de alguns. As igrejas rezariam dia e noite, sem parar, por anos a fio. Os ateus seriam perseguidos em sua autonomia e suas vidas correriam perigo. Os efeitos são imprevisíveis, mas o paroxismo sempre está presente, ainda mais num caso desses, em que as pessoas estão anelando pela presença de Deus há milhares de anos. Lembre-se que o último – fora Jesus – que o viu, mesmo assim como projeção na Sarça Ardente, foi Moisés há 3,3 mil anos.

Vitória, domingo, 29 de janeiro de 2006.

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