sexta-feira, 9 de setembro de 2016


Robin Rude


 

O Robin tinha dislexia, que é aquela doença de não saber falar as palavras direito, de trocar as bolas e ao mesmo tempo ter dificuldade de se expressar – as pessoas zombavam desde o primeiro grau e ele ficava uma arara (disléxica, há, há, há); e tinha Síndrome de Tourette, aquela outra doença de falar palavrão, de modo que os palavrões saíam todos truncados.

Era pior do que ser gago, era pior do que ser fanho.

DISLEXIA DE TOURETTE (o pessoal chamava de tourinho, o pequeno touro, que não tinha nada a ver com a palavra que designa a doença; nem sequer era alto, era baixinho)

Dislexia
Houaiss
substantivo feminino
Rubrica: medicina, psicolinguística.
1      perturbação na aprendizagem da leitura pela dificuldade no reconhecimento da correspondência entre os símbolos gráficos e os fonemas, bem como na transformação de signos escritos em signos verbais
2          dificuldade para compreender a leitura, após lesão do sistema nervoso central, apresentada por pessoa que anteriormente sabia ler
Síndrome de Tourette
Wikipédia
A síndrome de Tourette ou síndrome de la Tourette,[1] também referida como SGT ou ST, é uma desordem neurológica ou neuroquímica caracterizada por tiques, reações rápidas, movimentos repentinos (espasmos) ou vocalizações que ocorre repetidamente da mesma maneira com considerável frequência. Esses tiques motores e vocais mudam constantemente de intensidade e não existem duas pessoas no mundo que apresentem os mesmos sintomas. A maioria das pessoas afectadas é do sexo masculino.[2]

Ele xingava truncado, ninguém entendia nada e ficava perguntando “o quê”? Ele falava mais alto e o pessoal: “o quê”? Até ele gritar e ficar exasperado. Cresceu assim, com raiva de todo mundo. Em vez das pessoas o tratarem com educação, não, e foi o que se viu. A falta de amor faz coisa, eu compreendo isso, só não gosto quando pesa pro meu lado.

Resultado, ele foi morar no mato.

Lá encontrou o João Grande, João Grandão, mais de dois metros, parrudo, 2 x 2 x 2, verdadeiro monstro que eles chamavam de João Pequeno, com essa mania das oposições. Como os opostos se atraem, eles se tornaram amigos e foram arrebanhando gente, roubavam nas redondezas para dar “aos pobres” (davam 10 %, ficavam com 90 %). Reuniu um bando, um bando de orangotango, uma gangue, a polícia o perseguia, ele driblava, arranjaram uns cacetes e batiam nas pessoas. Entrou numa de chamar a matinha de Floresta de Sir Rude (Sir Ney não veio dar em Sarney?), que ficou conhecida pelo povo como Floresta de Sar-Rude. Havia um tampinha menor ainda que o Robin, apelidado de Frei Toco, porque ele dizia que tinha ido para o seminário. Não sei aonde!

Como não podia deixar de ser, juntou mulher, nisso parece com os carrinhos de churrasco. Apareceu por lá umas quenga, a Mariana, que os idiotas achavam que era uma Lady, a Lady Mariana, vê se pode, eu conhecia a bisca.

E os sacanas me apelidaram de Xerife.

Sou delegado concursado, não vem não.

Ah, pra quê, juntei os homens e caí de pau.

Pra cima de mim, não, violão.

Desci o cacete, o chefe depois chamou minha atenção.

Fui lá no acampamento daqueles bostinhas e mandei bater. Claro que foi com cassetete de borracha para não deixar marcas no exame de corpo de deleite, que não sou besta, a gente bate, mas com cuidado. Com amor.

Tinha uns 40. 20 foram embora no ato. Dos que ficaram, mais uns 15 pediram penico, deixei um dia no xilindró pra apender a respeitar autoridade. Nos cabeças, os cinco que mandavam - inclusive a Lady - era tudo ladrão ordinário, descarreguei a raiva que a patroa me fez durante um mês de jejum. Até comprei rosas pra ela, fiquei um doce.

O Robin?

Tá cada vez mais doidão, mas tá no pinel junto com o Janjão e o resto da turma. Diz que tá melhorando, talvez as bordoadas tenham consertado a cabeça dele. Sei lá, nem quero saber. Ninguém vai fazer filme no meu quintal, não, senhor. Comigo o buraco é mais embaixo.

Serra, segunda-feira, 26 de março de 2012.

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