sexta-feira, 2 de setembro de 2016


Olívia Palito


 

Ela era alta e magrinha.

Vivia dizendo “pô, pai”.

Quando se alimentava usava palito de dentes com a mão à frente da boca, cuspindo os restos de comida; pior, limpava os dentes com o palito, empurrando-o entre os lábios, era craque nisso. Passava a língua entre os lábios e os dentes de baixo e de cima, era um horror. Ficava com o palito rodando na boca o dia inteiro, o que era quase tão desagradável quanto as pessoas que tocam música funk e gospel a toda altura nos ônibus. Ou furam fila ou fazem todas essas coisas que tornam os brasileiros desagradáveis, embora haja também tanto a aplaudir.

Foi a conta.

Apelidaram-na de Olívia Palito.

A OUTRA FACE


https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiM-vVn2hhw9wDT7hC-oO7fQp6lJn2GNQVb70hv_MrjB1vYv_1-mv8f0KfxRpWZ_m3rVLZT8e9XIpmX8Apvp_QKgTljOpemDN_6y4AGQK1v3cBxSsPfSvJN9zYk-2B_HgwoYBg5CJo9xRI/s400/oliviapalito1.gif
http://4.bp.blogspot.com/_fwebfn9p0RE/R8oo6PUXYvI/AAAAAAAAAB8/LOWScpeI6Jo/s400/Popeye-TV.jpg

Ela chamava o marido de Painho (daí o “pô, pai”) e ele a chamava de Mainha, eram baianos.

Você vai achar que é invenção, mas apareceu um marinheiro parrudo 2 x 2 que passaram a chamar de Brutus, também conhecido com Zeca 10 e 10 porque quando ele levantava os braços para mostrar os bíceps formava um relógio marcando essa hora.

Sei lá de onde vêm os apelidos.

O fato é que o Brutus se enrabichou pela Olívia que, lembre-se, era casada. Quem sabe dizer de onde vêm esses amores? Acho que são os contrastes, ela magrinha, ele enorme. O Brutus era espantoso em tamanho, mas não era bobo, procurou se enturmar com o Painho, trazia uísque para ele das viagens de navio, foi ficando amigo, jantava e almoçava na casa deles. Apesar do nome, o Brutus foi com jeito, foi se chegando, até batizou o próprio filho com a Olívia como afilhado, que as pessoas da rua maliciosamente chamavam de Brutinho, olha só que parrudo!

Painho nada percebia.

Pois era estivador no porto, tirava plantão, tinha uns braços gigantes mesmo, grossões.

Um dia o navio não atracou, ele foi liberado, chegou mais cedo em casa, encontrou a Olívia e o Brutus na cama do casal, retalhou os dois, fugiu do flagrante, foi preso, alegou “defesa da honra” e foi solto. Agora cuida da criança e diz “pai é quem cria”. O pessoal do porto o tem como herói: traído barbaramente, macho vingativo de não abrigar desaforo em casa, pai devotado – agora ele subiu um degrau na profissão, é guindasteiro, ganha uma baba em dólares.
Serra, sexta-feira, 09 de março de 2012.

Nenhum comentário:

Postar um comentário