terça-feira, 1 de novembro de 2016


Tutto Buona Gente, Cosa Nostra

 

Tudo gente boa, coisa nossa.

Familiares, é isso.

O sangue fala mais alto.

Coisas assim.

A jornalista foi entrevistar o chefão da Máfia na saída do tribunal.

JORNALISTA (quase colocando o microfone no nariz dele, insolente, impositiva) – o que o senhor diz desse julgamento?

CHEFÃO (tirando um caderninho e anotando com lápis de marceneiro, daqueles grossos: “insolente, impositiva”) – deu o que tinha que dar.

JORNALISTA – e o que tinha que dar?

CHEFÃO – o que deu.

JORNALISTA (irritada) – estamos dando voltas.

CHEFÃO (anotando: “metida a besta, candidata a envelope”) – qual o seu nome, minha filha?

JORNALISTA (esperta, dando o nome de uma prima) – Sueli.

CHEFÃO (olhando o crachá) – não é isso que está no crachá (anotando: “mentirosa, quer escapar, vou colocar Sueli no envelope”). De que família?

JORNALISTA (dando o sobrenome de um colega) – Honório.

CHEFÃO (olhando de novo) – não é isso que está no crachá (anotando: “colocar o nome inteiro dela, senão, não vão saber quem é quando acharem”).

JORNALISTA – vamos voltar ao assunto. O senhor achou certo seu filho ter saído impune de três assassinatos?

CHEFÃO (meditativo) – bem, as pessoas estão nervosas, armadas, são provocadas, deu no que deu.

JORNALISTA (indignada) – mas eram três pessoas comendo na mesa ao lado!

CHEFÃO (anotando: “quer implicar com o menino”) – bom, mas se elas olharam de cara feia ...

JORNALISTA – como, de cara feia? O vídeo do restaurante mostrou, estavam de cabeça baixa.

CHEFÃO – então! Estavam rindo, debochando.

JORNALISTA – eu vi o vídeo, não estavam, não, estavam rindo da piada que contaram.

CHEFÃO – e como meu filho poderia saber? Contaram para ele?

JORNALISTA (ardilosa, indecorosa) – e como é que SETE júris faltaram ao dever?

CHEFÃO (anotando: “ardilosa, indecorosa, quer saber demais”) – sei lá, ué, ninguém tem compromisso hoje em dia! Ficam dando as desculpas mais esfarrapadas.

JORNALISTA (olhando as anotações) – 12 foram atropeladas, quatro se jogaram da ponte, seis tiveram sintomas de envenenamento ...

CHEFÃO (dando de ombros) – eu tenho culpa se as pessoas se jogam na frente dos carros? As pessoas tentam brecar, mas elas se jogam debaixo dos eixos.

JORNALISTA – e as quatro que se jogaram?

CHEFÃO – três eu estava lá, subiram no parapeito ...

JORNALISTA (cruel, debochando, balançando os ombros) – claro, com armas apontadas, os transeuntes contaram.

CHEFÃO (anotando: “cruel, debochada”) – detalhes.

JORNALISTA – e o senhor pagou uma junta de advogados.

CHEFÃO – foi, como quando minha filha arrancou os bagos do namorado namorador dela com os dentes, disseram que foi crueldade, ele estava amarrado, as pessoas disseram aquilo, porém se tratava de meros jogos sexuais, brincadeira de crianças, essa coisa de algemas, nem aprovo, no meu tempo não tinha disso, o máximo que a patroa aguentava eram umas chicotadas e olhe lá.

JORNALISTA (intrusa) – e sua esposa participa disso?

CHEFÃO (anotando: “intrusa”) – hum! Ela falou comigo: “ó, se esse menino ficar preso nunca mais você vai ter aquela comida que gosta tanto”. Vou ficar sem o resto da vida?

Serra, quinta-feira, 04 de fevereiro de 2016.

GAVA.

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