terça-feira, 1 de novembro de 2016


Tutti Frutti

 

- Mãe, lá na escola estão me chamando de Tutti Frutti.

- Significa todas as frutas, meu filho.

- Por quê?

- Bem, são as misturas brasileiras. Seu trisavô era português, branco, pegou as índias, então uma de suas trisavós era índia. Outro era indiano, nem fiquei sabendo como chegou aqui. São oito. Uma era índia paraguaia, daí seu cabelo fininho e liso. Uma era negra retinta recém chegada da África, cabelo ondulado. Um era inglês, escocês, sei lá. Outro era português também, chegado na cor, pegou uma escrava, mestiça com índio, mandou bala, faz as contas.

- Entendi.

- Dos avôs e avós, um era o Ajax, o Marciano.

- É porisso que quando ficou com raiva fico verdinho, o pessoal me chama de Hulk, pensei que era parente.

- A sua tia-avó era a Mulher Maravilha.

- Mas isso não interfere.

- Certo, mas ela era irmã de sua avó, minha mãe, elas só têm duas filhas, duas filhas cada, uma sou eu.

- Se elas só têm filhas você também é Mulher Maravilha?

- Vai falar isso pro seu pai, aquele inútil.

- Mas se elas só têm filhas, como é que você me teve?

- Tive que renunciar à imortalidade, veja como gosto de você. Outro avô era negociante americano, daí a metideza de nossa família. Lá, toda aquela pureza racial, aqui casou com uma mulher azul lá de Pandora, daí suas orelhas pontudas.

- Aí chegou em mim. Se você é mulher maravilha, papai é homem maravilha?

- Ele que pensa, né? Mamãe bem que me preveniu: minha filha, você vai se arrepender! Não de você, querido, claro que não.

- Mãe, nesse verão vamos para Temiscira ver vovó?

- Se ela mandar nos buscar, sim, claro.

Serra, sexta-feira, 08 de janeiro de 2016.

GAVA.

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