Tutti
Frutti
- Mãe, lá na escola estão me chamando de
Tutti Frutti.
- Significa todas as frutas, meu filho.
- Por quê?
- Bem, são as misturas brasileiras. Seu
trisavô era português, branco, pegou as índias, então uma de suas trisavós era
índia. Outro era indiano, nem fiquei sabendo como chegou aqui. São oito. Uma
era índia paraguaia, daí seu cabelo fininho e liso. Uma era negra retinta recém
chegada da África, cabelo ondulado. Um era inglês, escocês, sei lá. Outro era
português também, chegado na cor, pegou uma escrava, mestiça com índio, mandou
bala, faz as contas.
- Entendi.
- Dos avôs e avós, um era o Ajax, o Marciano.
- É porisso que quando ficou com raiva fico
verdinho, o pessoal me chama de Hulk, pensei que era parente.
- A sua tia-avó era a Mulher Maravilha.
- Mas isso não interfere.
- Certo, mas ela era irmã de sua avó, minha
mãe, elas só têm duas filhas, duas filhas cada, uma sou eu.
- Se elas só têm filhas você também é Mulher
Maravilha?
- Vai falar isso pro seu pai, aquele inútil.
- Mas se elas só têm filhas, como é que você
me teve?
- Tive que renunciar à imortalidade, veja
como gosto de você. Outro avô era negociante americano, daí a metideza de nossa
família. Lá, toda aquela pureza racial, aqui casou com uma mulher azul lá de
Pandora, daí suas orelhas pontudas.
- Aí chegou em mim. Se você é mulher
maravilha, papai é homem maravilha?
- Ele que pensa, né? Mamãe bem que me
preveniu: minha filha, você vai se arrepender! Não de você, querido, claro que
não.
- Mãe, nesse verão vamos para Temiscira ver
vovó?
- Se ela mandar nos buscar, sim, claro.
Serra, sexta-feira, 08 de janeiro de 2016.
GAVA.
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