Clarice em Estado de
Graça
Julguei, pelas minhas pesquisas, que a
Clarice Lispector se iluminou ou foi iluminada dos 36 aos 39 anos (tendo
nascido em 1926 morreu em 1977, 51 anos entre datas; portanto, a iluminação
ocorreu entre 1962 e 1965). Foi muito precoce, embora menos que Cristo, que a
recebeu aos 30 anos; e outros podem ter “sofrido” isso mais cedo ainda, é
preciso pesquisar. No meu caso, passei pelas experiências tardiamente a partir
dos 49 anos, porque nem fazia questão.
Comentei 13 de seus livros em dois
volumes. Em todo caso, um dos livros em que ela descreve a experiência é Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres,
Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1980, publicado pela primeira vez em 1969, logo
depois do que julguei ser a data de fechamento.
CITANDO
AS PÁGINAS (não
todas, nem escolhidas)
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p.
30: “Luminescência”;
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p.
123: “Agora é que ela notava tudo isso. Era uma iniciada no mundo. Que lhe
parecia um milagre”;
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p.
132: “(...) não era necessário que a coisa fosse extraordinária para que nela
se sentisse o extraordinário”;
·
p.
133: “A alegria verdadeira não tinha explicação possível, não tinha sequer a
possibilidade de ser compreendida (...)”;
·
p.
140: “(...) por vezes tomada de um êxtase de prazer puro e legítimo que ela mal
podia adivinhar”;
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p.
146: “Só quem já tivesse estado em graça, poderia reconhecer o que ela sentia”;
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p.
147: “(...) uma lucidez que Lori só chamava de leve porque na graça tudo era
tão, tão leve” – veja que Lori é L, Lispector;
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p.
147: “Era uma lucidez de quem não adivinha mais: sem esforço, sabe. Apenas
isto: sabe”;
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p.
147: “E havia uma bem-aventurança física que a nada se comparava. O corpo se
transformava num dom. E ela sentia que era um dom porque estava experimentando,
de uma fonte direta, a dádiva indubitável de existir materialmente”;
·
p.
147: “No estado de graça, via-se a profunda beleza, antes inatingível, de outra
pessoa. Tudo, aliás, ganhava uma nova espécie de (brilho) que não era
imaginário: vinha do esplendor da irradiação quase matemática das coisas e das
pessoas”;
·
p.
147: “Passava-se a sentir que tudo o que existe – pessoa ou coisa – respirava e
exalava uma espécie de finíssimo resplendor de energia. Esta energia é a maior
verdade do mundo e é impalpável”;
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p.
148: “as descobertas naquele estado eram indizíveis e incomunicáveis”;
·
p.
148: “Mas era inútil desejar: só vinha espontaneamente”;
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p.
149: “(...) ela não quereria ter com muita freqüência o estado de graça. Seria
como cair num vício, iria atraí-la como um vício, ela se tornaria contemplativa
como os tomadores de ópio”;
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p.
149: “E se aparecesse mais a miúdo, Lori tinha certeza de que abusaria:
passaria a querer viver permanentemente em graça”;
·
p.
150: “(...) era como se o corpo todo acabasse de sair de um sorriso suave”.
Há muito mais, mas não importa.
As pessoas não notam, porque não
transparece, a pessoa não se comporta como uma beata, não fica extasiada como
os santos que estão recebendo: é interior. Não é para ninguém, é só para si; se
os outros notam é porque quem está passando por isso se torna cada vez mais
desinteressado.
Vitória, sábado, 23 de dezembro de
2006.
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