sábado, 9 de junho de 2018


Clarice em Estado de Graça

 

Julguei, pelas minhas pesquisas, que a Clarice Lispector se iluminou ou foi iluminada dos 36 aos 39 anos (tendo nascido em 1926 morreu em 1977, 51 anos entre datas; portanto, a iluminação ocorreu entre 1962 e 1965). Foi muito precoce, embora menos que Cristo, que a recebeu aos 30 anos; e outros podem ter “sofrido” isso mais cedo ainda, é preciso pesquisar. No meu caso, passei pelas experiências tardiamente a partir dos 49 anos, porque nem fazia questão.

Comentei 13 de seus livros em dois volumes. Em todo caso, um dos livros em que ela descreve a experiência é Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1980, publicado pela primeira vez em 1969, logo depois do que julguei ser a data de fechamento.

CITANDO AS PÁGINAS (não todas, nem escolhidas)

·       p. 30: “Luminescência”;

·       p. 123: “Agora é que ela notava tudo isso. Era uma iniciada no mundo. Que lhe parecia um milagre”;

·       p. 132: “(...) não era necessário que a coisa fosse extraordinária para que nela se sentisse o extraordinário”;

·       p. 133: “A alegria verdadeira não tinha explicação possível, não tinha sequer a possibilidade de ser compreendida (...)”;

·       p. 140: “(...) por vezes tomada de um êxtase de prazer puro e legítimo que ela mal podia adivinhar”;

·       p. 146: “Só quem já tivesse estado em graça, poderia reconhecer o que ela sentia”;

·       p. 147: “(...) uma lucidez que Lori só chamava de leve porque na graça tudo era tão, tão leve” – veja que Lori é L, Lispector;

·       p. 147: “Era uma lucidez de quem não adivinha mais: sem esforço, sabe. Apenas isto: sabe”;

·       p. 147: “E havia uma bem-aventurança física que a nada se comparava. O corpo se transformava num dom. E ela sentia que era um dom porque estava experimentando, de uma fonte direta, a dádiva indubitável de existir materialmente”;

·       p. 147: “No estado de graça, via-se a profunda beleza, antes inatingível, de outra pessoa. Tudo, aliás, ganhava uma nova espécie de (brilho) que não era imaginário: vinha do esplendor da irradiação quase matemática das coisas e das pessoas”;

·       p. 147: “Passava-se a sentir que tudo o que existe – pessoa ou coisa – respirava e exalava uma espécie de finíssimo resplendor de energia. Esta energia é a maior verdade do mundo e é impalpável”;

·       p. 148: “as descobertas naquele estado eram indizíveis e incomunicáveis”;

·       p. 148: “Mas era inútil desejar: só vinha espontaneamente”;

·       p. 149: “(...) ela não quereria ter com muita freqüência o estado de graça. Seria como cair num vício, iria atraí-la como um vício, ela se tornaria contemplativa como os tomadores de ópio”;

·       p. 149: “E se aparecesse mais a miúdo, Lori tinha certeza de que abusaria: passaria a querer viver permanentemente em graça”;

·       p. 150: “(...) era como se o corpo todo acabasse de sair de um sorriso suave”.

Há muito mais, mas não importa.

As pessoas não notam, porque não transparece, a pessoa não se comporta como uma beata, não fica extasiada como os santos que estão recebendo: é interior. Não é para ninguém, é só para si; se os outros notam é porque quem está passando por isso se torna cada vez mais desinteressado.

Vitória, sábado, 23 de dezembro de 2006.

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