domingo, 8 de abril de 2018


As Poupanças de Yuki

 

A Yuki é a gata persa de minha filha Clara. Foi “propriedade” conjunta com a amiga Olívia, que é descendente direta de japoneses e fala a língua, tendo lhe dado o nome cujo significado é “neve”. Quando foi para outro lugar a Olívia deixou com a Clara e a Clara voltou a morar conosco, trazendo a gata que tem somente 2,2 kg. Por fora é só pêlo, pelo menos cinco centímetros em toda a volta – é mesmo uma bolinha macia e cheirosa, sempre limpinha.

GATA PERSA NA INTERNET (a Yuki é particularíssima, evidente)


Já raciocinei muito sobre ela e o Silas, o cão labrador do meu filho Gabriel. Em particular, ela é calmíssima, muito contida: por mais que ele escancare a bocarra perto dela (poderia engolir toda sua cabeça de uma mordida só, tendo agora aos oito meses 30 kg), mas ela não se mexe exceto quando estritamente forçoso. Não faz gestos desnecessários. Ele urra, balança a cabeça, salta, corre, late, ruge, bate nas coisas e ela fica impassível. Quando o sente ofensivo de fato arranha-o, morde-o, pendura-se nele, estapeia-o. No mais, “fica na dela”, como dizem os jovens. É o próprio retrato da serenidade budista, sem gastar um fiapo de energia além do necessário. Não esbarra em nada, não cutuca os objetos, não destrói nada, é muito econômica. Como vimos no Modelo da Caverna para a Expansão dos Sapiens (MCES), ela é a alma-lateral das mulheres e foi construída psicologicamente como vigilante de bebês: fica o tempo todo nos parapeitos vigiando insetos, ratos, passarinhos (imagino que vigiava também cobras e lagartos nas cavernas de origem).

Vive de grãos, come com sua boquinha pequeníssima um ou dois ou o que for de cada vez e é mesmo gratificante vê-la se alimentando pausadamente e bebendo água aos tiquinhos, ao contrário de Silas, que é um estabanado sujão (gostamos dele por outros motivos).

OS gatos são fenômenos mal-estudados como auxiliares psicológicos da humanidade, tanto quanto a sociedade com os cachorros, que vem de 100 mil anos. Ela dorme e vigia. Vigia os passarinhos que poderiam bicar os filhotes humanos. Corre de janela em janela, vai aos ralos, tenta alcançar a o enxame de abelhas na colméia que tentou se instalar na lateral do prédio. A Yuki é uma criatura fantástica, descendente de uma raça parceira nossa; no caso, parceira das mães-mulheres, e tão econômica quanto estas. É uma criaturinha da mais alta estirpe. Ela poupa porque não tem a Natureza vasta de fora à disposição: só o que está dentro da casa-caverna, como as mães-mulheres fazem.

Vitória, quinta-feira, 07 de setembro de 2006.

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