quarta-feira, 6 de setembro de 2017


O Condomínio Ideal

 

                            Muitas novidades despontaram do Modelo da Caverna para a Expansão dos Sapiens. Dentre elas a separação entre os quatro sexos, o fato de que a coleta inequivocamente plantou incontornáveis desejos muito específicos nas mulheres e que a caça do outro lado fez o mesmo com os homens.

                            OS DESEJOS DAS MULHERES

·       Filhos, filhos, filhos (meninos sempre, nunca meninas; porisso, especialmente, as mulheres-menininha desejam a todo custo se tornar “vasos de depósito”, para tal recorrendo aos expedientes mais espantosos e até solertes ou manhosos, contra o quê se insurgem as fêmeas férteis e, principalmente, as fêmeas inférteis, que se acham injustiçadas);

·       Cuidados com os filhos (comporta uma quantidade fantástica de disciplinas próprias depois de mães, sendo a maternidade um estado de graça, uma situação especialíssima e muito alta, devendo todos da caverna ter por ela reverência);

·       Cuidados com a casa-caverna (compreendendo o interior e o terreiro em volta, o que significa limpar, limpar, limpar, já que potencialmente os cheiros atrairiam os predadores a elas e, pior ainda, aos garotos – perder um menino era equivalente a perder o futuro, era pior que morrer);

·       Relações hiper-diplomáticas com a mãe dominante e seu grupinho, com o grupo das mães, com o grupo das inférteis excluídas e submissas, com os 80 a 90 % da tribo – todos os que ficavam;

·       Memorização contínua e o processo de aprimoramento dessa supermemória que nós homens não conhecemos;

·       Infinitas variações ligadas a ter casa-útero e seus produtos inumeráveis.

DESEJOS DOS HOMENS

·       Caçar, caçar, caçar (guerra, guerra, guerra – quando não foi mais possível inventaram os esportes, que ainda devem ser analisados);

·       Ter filhos (ou seja, demonstrar masculinidade, domínio do futuro, ampliação do cone-de-futuro, por assim dizer, afirmando-se então maior e melhor que os outros – ter 50 filhos era o máximo);

·       Apoio de caça (aparelhos, máquinas, instrumentos, programas, computadores, canivetes, arco-e-flecha, lanças, cavalos, carros, impressoras, carroças, caminhões, uma infinidade de utensílios – as mulheres jamais devem tocar nessas coisas);

·       Calibradores, medidores, apuradores e tudo que permite aprimoramento ou refinamento dos instrumentos;

·       Chaves de fenda, Philip, de boca, inglesa e todo tipo de coisa de construir e se apoderar;

·       Domínio, domínio, domínio;

·       Todas as variações da conquista (ações, piscinas, viagens, pérolas e objetos oferecidos às fêmeas).

Isso põe não apenas outros desenhos para as casas ou os apartamentos como também para os condomínios, conjuntos de casas.

É preciso haver dentro deles, para as mulheres, terreiro na frente a ser simbolicamente limpo, área simbólica com árvores de coleta e supermercados por perto. Para os homens uma trilha-de-caça ou o que for, representativa das possibilidades, digamos assim uma calçada de Cooper; ginásios e quadras poliesportivas representativas da destrutividade potencial que deve vazar.

Os arquiengenheiros devem se reunir com os psicólogos da Caverna para estudar o passado e redesenhar todas as coisas. Não vai ser fácil e depois de se chegar a um consenso quase todas as casas e apartamentos antigos deverão ser demolidas ou reformadas, segundo os novos critérios, o que implicará trabalheira danada. Contudo, será exponencial e em poucos anos sequer reconheceremos nas novas formestruturas o que víamos antes. As pessoas, sentindo-se desconfortáveis hoje em dia sem saber porque, quererão migrar a todo custo para essas novas construções.

Eis aí a oportunidade de uma nova empresa de construção civil em larga escala, servindo ao mundo inteiro.

Vitória, domingo, 20 de março de 2005.

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