Esses Grandes
Sacrifícios que nos Sustentam
De julho de 1992 a
março de 2005, por quase 13 anos (menos os períodos de férias, 12 ou 13, e os
meses em que lá não estive) freqüentei os postos fiscais, onde é tudo muito
difícil, não se listando propriamente o dormir menos (embora já se dormisse
seis horas por noite, forcei para conseguir para os colegas duas horas de dia,
de modo que dormimos tanto quanto qualquer um, oito horas; fora as horas de
alimentação, necessidades fisiológicas e morcegação geral de mil modos
inventivos de quase todos), pois nem é isso. É mais a dificuldade de lidar com
os motoristas e eles conosco; a vida deles é dificílima, passando por estradas
esburacadas, lidando miudamente com fretes baixos e exploração dos patrões (os
que não possuem carro próprio), enfrentando os muitos ladrões na pista
(inclusive policiais federais que pedem propina, ou os fiscais), uma infinidade
de problemas. Então, eles nos ofendem e nós devolvemos o troco. Em nenhuma
profissão existe isso, pois ninguém vai a consultório médico insultar o doutor,
nem a repartição pública violentar os atendentes – só no Fisco de fronteira é
assim, porque as pessoas são atrasadas no trânsito, enfrentam a burocracia
desatenciosa, são multadas, uma quantidade enorme de dificuldades.
Então, nós sofremos.
Nesses 13 anos, para
ter os 5,5 dias de folga (são seis em oito, mas há o trânsito) para escrever,
sujeitei-me, e sofri.
Mas esse meu
sofrimento, inclusive com perseguição constante das chefias, ainda que agudo
não é nada perto do que outros sofreram para beneficiar a humanidade. Assim,
quando olho a liberdade, posta adiante de tantas covardias e tantos covardes,
sei que a devo aos lutadores, aos libertadores; e, por assim dizer, rezo por
eles, que nos momentos de coragem e enfrentamento nos salvaram dos piores
destinos.
E quando vejo tudo
que nos foi garantido, de azulejos a tantas liberdades e benefícios, sei que
foi devido àquelas almas reais que se sacrificaram pela coletividade; não veio
dos aproveitadores, dos Jorginho Guinle da vida, veio dos que perderam a noite
para descobrir uma fórmula, dos que por anos a fio mourejaram para levantar uma
ponte grande e de construção complexa, todas essas criaturas que aplaudo e que
nos sustentam com tudo isso que de bom está à nossa volta. Quando olho para as
coisas construídas vejo presentes todas essas almas que nelas estão estampadas,
pois as coisas são estampas das almas que as fizeram.
Vitória,
segunda-feira, 14 de março de 2005.
Nenhum comentário:
Postar um comentário