Velhote
O velhote estava sentado no banco na orla, lá
vem a moça nissei, rosto lindo, o rapaz moreno alto e alguns amigos de toda
cor, mais para perto dele começou discussão marido-mulher, ela ficou exaltada,
quando estava chegando ainda mais próximo falou alto, ele no ato mesmo, na
presença de todo mundo, a praia cheia, deu nela um tabefe de estalar, ficou
todo mundo paralisado, pasmado, mas ninguém defendeu.
VELHO TE
(fala mansa) – ê, companheiro, que é isso?
MORENO (agressivo) – que que é, hem? Vai querer
encarar?
A moça, meio tonta e sem ajuda sentou-se no
banco ao lado do velhote, ficou chorando.
MORENO (insinuando-se) – vai querer comer
ela?
VELHOTE (sempre tranquilo) – que é isso,
moço? Comporte-se.
MORENO (ainda mais nervoso) – comportar o
caralho, vai tomar no cú, velhote.
O velhote levantou os dois braços, eram duas
braquiorradiais, apontou com a direita o peito, uma safena.
VELHOTE – sou cardíaco, não posso ficar
nervoso, risco de morte.
MORENO (soprando, vuh) – é um sopro, hem,
velhote, risco de morte procê, né?
E gargalhou de jogar a cabeça para trás.
VELHOTE (levantando-se, juntando os quatro
dedos e o polegar, dando uma cutilada na glote do moreno, ela afundou, ele entrou
em colapso, arriou aos poucos, em segundos) – não, para você (e sentou-se).
AFUNDAMENTO
DA TRAQUEIA
Os segundos pareceram horas.
BRANCO QUE ESTAVA JUNTO (virando a cabeça de
um lado para o outro) – ouvi minha mulher me chamar, ela é braba pra cacete,
gente, tô indo.
MULHER MIGNON QUE ESTAVA JUNTO – olhalá, meu
marido, tô procurando ele faz um tempão (e saiu correndo).
GAROTA DE 17 ANOS (botando a boca em concha –
Jaqueline, Jaqueline ...
O pessoal todo virou de costas.
O velhote e a moça continuaram conversando
como se nada tivesse acontecido, passou um tempo, chegou a polícia.
POLICIAL – já perguntamos por aí, ninguém viu
nada, cês estavam aqui, viram?
VELHOTE (mostrando os braços) – sou safenado,
cardíaco, não posso ficar nervoso. Fui eu.
Os dois policiais riram.
POLICIAL (passando a mão na cabeça dele,
afagando, ainda rindo) – tá bem, vovô ... Moça?
MOÇA (cantando da música) – Moreno alto,
bonito e sensual.
POLÍCIAL (moreno, virando para o outro, negro)
– aí, Zé, negão, metido a fortão, vai dar trabalho. Quer que chame reforço?
POLICIAL II – não, não, a gente dá conta (e
foi sacando o cassetete).
POLICIAL – Namorado seu? Viu para onde foi,
moça?
MOÇA (agarrando o braço do velhote, na maior
cara de pau, aponta com o braço) – acho que vocês podem procurar pra lá.
POLICIAL II – E esse aqui?
MOÇA (chorando um pouco) – meu marido, ele
deu um tapa na minha cara.
POLICIAL (sacando caderninho) – entendi,
namorado estava junto, ex-marido ciumento, quis tirar farinha, levou o dele.
Leve seu pai para casa, ele não pode ficar vendo essas coisas.
MOÇA (toda agarradinha com o velho herói,
depois que os policiais tinham saído) – onde o senhor mora?
Serra, sábado, 06 de fevereiro de 2016.
GAVA.
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