Se
Demorar a Gente Espera
Esse cara teve a esperteza de sondar o
espírito público, que tem lá seu conhecido desprendimento (nunca cola em
alguém, “des-prender” é o mote), com isso colocou empresa para treinar
paciência de quem vai solicitar serviços nas repartições.
REPARTIÇÕES
LOTADAS
(se não tiver paciência só passa raiva)
Treinamento francês para entrar na fila.
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Três entradas, mas uma fica fechada e uma
os guardas não deixam entrar (é só para os cheguardas).
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Chá de cadeira das cinco.
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Funcionários públicos nos (outros) dias de
folga.
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Ele fez inclusive camisas, com esse título
mesmo, tinha alongamento, tinha pilates para as dores, tinha hidroginástica
para a maleabilidade, tinha relaxamento zen, tinha comida dietética, tinha
remedinho para tensão (nada muito pesado para não dormir nas longas esperas,
tinha gente que dormia, perdia a chamada, tinha de pegar outro número lá de
trás, ficava tensa à toa), tinha aconselhamento psicológico, padrinho para as
recaídas (nada é tão ruim quanto, depois de ter atingido alto patamar de
tolerância, recair nas brigas e, pior ainda, no incitamento vingativo).
Era mais para motobois e motovacas, os mais
sacrificados, que tinham de ir a várias repartições a cada dia, ganhavam por
hora, tá na cara, e se demoravam mais eles “davam ninja”, sumiam no trecho,
escafediam-se, mas mesmo assim, fora o inferno isso era o máximo que se
conseguia na vida.
O pessoal das repartições até gostava do
bom-humor, ria, a “se demorar a gente espera” respondia com “se esperar a gente
demora”, mas atendiam antes, você sabe, sempre o jeitinho, não pode, mas pode,
não tem jeito, daqui a pouquinho sai, guenta aí, essas coisas, sempre a
camaradagem, de modo que onde iria demorar uma hora demorava só 58 minutos.
Ganhavam até direito a água, às vezes um cafezinho choco, quando estavam
apertados podiam a ir ao banheiro sem resmungo, etc., todo tipo de benefício.
No resto, era combinar de dormir e ser
chamado pelo funcionário, sempre tinha um troco, uma rosa pras mulheres, uma
latinha pros homens, vai acumulando, pensa que não?
Serra, quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016.
GAVA.
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