sexta-feira, 8 de setembro de 2017


Pedras na Mão

 

                            SACANDO A TERCEIRA LÂMINA

Zé Ramalho
É aquela que fere, que virá mais tranqüila (o povo começa a caminhar, juntando grandes multidões aos poucos engrossando as fileiras)
 
Com a fome do povo, com pedaços da vida (as pessoas caminhando, mas levando cartazes estampando as várias decepções do povo: roubalheira, assaltos, salários baixos, tudo que foi acumulado em décadas de desmandos)
 
Com a dura semente, que se prende no fogo de toda multidão (o “plantio” do juiz Lalau como semente que dará fruto, da Georgina, de Collor, dos anões do orçamento, das mercadorias sem garantia, de tudo que sai no jornal como assassinato de adolescentes – tudo sendo plantado na terra cerimonialmente)
 
Acho bem mais do que pedras na mão (foices, martelos, enxadas, vassouras, punhos, galhos, todo tipo de ajuda)
 
Dos que vivem calados, pendurados no tempo (ônibus superlotados no Brasil, trens abarrotados no Japão, ruas apinhadas nos EUA)
 
Esquecendo os momentos, na fundura do poço
Na garganta do fosso, na voz de um cantador (gargantas abertas gritando a pleno vapor, a câmera mergulhando nelas como que em poços sem fundo, a revolta vindo de dentro)
Introdução:
E virá como guerra, a terceira mensagem, na cabeça do homem, aflição e coragem afastado da terra, ele pensa na fera, que o começa a devorar acho que os anos irão se passar com aquela certeza, que teremos no olho novamente a idéia, de sairmos do poço da garganta do fosso na voz de um cantador
Começa uma batalha simbólica de soldadinhos de chumbo sagrando chumbo, disparando balinhas de chumbos, chorando chumbo no país de chumbo da burguesia.

Vitória, segunda-feira, 28 de março de 2005.

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