sexta-feira, 1 de setembro de 2017


O Salto da Terra na Flechada

 

                            Quando uma flecha (cometa ou meteorito) bate na Terra esta não é propriamente como uma grande bola posta no chão na qual fizéssemos incidir uma pedrinha; tal bola teria atrás de si a resistência do piso, ao passo que o planeta, não, está solto no espaço – ele poderia até ser ligeiramente deslocado da órbita (dificilmente, porque a massa é tão maior que mesmo a tremenda energia de uma flecha particularmente gigantesca pouco poderia fazer, embora certamente deslocasse os eixos; isso seria interno), mas o que de fato aconteceria seria que o planeta, sendo material elástico perante tal força, comprimiria e dilataria na medida em que girasse e fosse ainda submetido aos puxões gravitacionais da Lua e do Sol, o deste constante e o daquela variável na base de 1/28 por dia.

                            Então, seria como se uma pedrinha batesse numa bola imensa [a proporção seria de, digamos, 6.372 x 2 = 12.744 km de diâmetro para 16 km do meteorito de Iucatã há 65 milhões de anos, 0,13 %; se a Terra tivesse um metro de diâmetro tal pedrinha teria 1,23 mm, um cisco, mas com muita energia (tanto assim que uma dessas acabou com 70 % das espécies) ]. O objeto celeste começa a vibrar, balançando como vara verde. Seria uma pancada forte e deveria ser repetidamente modelada. A grande de -273 milhões de anos tinha, sei lá, uns 30 a 40 km, nos termos acima 2,3 a 3,1 mm. A Terra sacode a poeira mesmo, literalmente. Como é que uma coisa assim tão pequena pode tanto em relação a essa bola-simbólica de 100 cm de diâmetro?

                            Agora, seria interessantíssimo vermos nessa proporção o pequenino objeto batendo e provocando tal catástrofe. A grande bola chacoalha e vibra demoradamente. Aí, já deveríamos perguntar pelos efeitos na crosta [que por sua vez se subdivide: 1) atmosfera, 2) oceanos, águas e gelos; 3) desertos e solos em geral]; no manto; no núcleo; fora do planeta (pois pedaços são enviados de volta ao espaço). A computação gráfica seria formidável.

                            Quais os efeitos na Vida geral e na Vida-racional em particular? Se tsunamis resultantes de maremotos modestos, se vulcões e abertura de fissuras podem provocar tais devastações, imagine só as de uma flecha! Precisaríamos ver com os nossos próprios olhos (e não apenas com os olhos qualitativos da imaginação e do pensamento) físicos, mesmo que em modelação computacional, pois nada é tão ilustrativo e epifânico quanto isso.

                            Vitória, segunda-feira, 21 de fevereiro de 2005.

Nenhum comentário:

Postar um comentário