4.000 Dias
Já descrevi – antes
de terminar o ciclo – a minha presença nos postos fiscais; começando em julho
de 1992 e terminando em março de 2005 completaram-se quase 13 anos, dos quais
há que descontar as respectivas férias, não sei quantas (podem ser doze ou
treze) e os meses em que não estive lá, poucos. Então 13 x 11 = 143 meses.
Multiplicando por sete ou oito plantões por mês teríamos de 1.001 a 1.144
plantões, não sendo importante fixar quantos, precisamente, pois é apenas ordem
de grandeza, em todo caso mais de mil dias. Como o regime é de 2 x 6 (dois dias
trabalhados por seis de folga) ou 1 x 3, tive outros três mil dias fora, a que
se devem somar as 12 ou 13 férias (12 x 30 = 360 ou 13 x 30 = 390 dias, em que
também trabalhei; pois são 13 anos menos três meses, 13 x 365,25 = 4.748 dias
menos 90 dias, 4.658 dias). Soma de 1 + 3 = 4. Dos três mil que passei em casa
trabalhei quase todos, menos dez deles durante a operação, mas inclusive nas
férias, sábados, domingos e feriados. Naqueles em que fiquei nos postos anotei
títulos, idéias e patentes e li uma quantidade enorme de textos, enquanto os
motoristas não vinham, ou antes de dormir, ou em qualquer tempo e lugar. Anotei
nas viagens, mesmo que toscamente.
Não sou nenhum
super-herói, você pode fazer a mesma coisa que fiz, e foi muito, acredite.
Qualquer um pode fazer. Este texto visa justamente dizer que todos e cada um de
nós pode fazer muito em prol da coletividade, se de fundo houver uma aguda
identidade com a humanidade, se houver preocupação. A gente toda dá muitas
desculpas, arranja muitos motivos para não fazer, de cansaço a picuinhas do dia
a dia, porém o que há mesmo é tempo sobrando ou que se pode ajeitar para
sobrar. E de qualquer modo 13 anos se passaram para todas as pessoas que
estiveram vivas então: o que elas fizeram? Nós damos muitas desculpas, nós
facilitamos demais nossa própria existência. O autoflagelamento é mais horrível
ainda, não se esqueça.
Não é preciso
anunciar ao mundo nos alto-falantes, você pode fazer maciamente, sem estardalhaço,
sempre quieto e tranqüilo. Não fui só eu, infinitas pessoas trabalharam,
criaturas extraordinárias cujas histórias a gente pode ler com devoção, como
faço.
Sem pretextos se
pode fazer muito. Bem que certa humanidade merece e bem que ela está
precisando.
Vitória, sábado, 19
de março de 2005.
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