terça-feira, 5 de setembro de 2017


4.000 Dias

 

                            Já descrevi – antes de terminar o ciclo – a minha presença nos postos fiscais; começando em julho de 1992 e terminando em março de 2005 completaram-se quase 13 anos, dos quais há que descontar as respectivas férias, não sei quantas (podem ser doze ou treze) e os meses em que não estive lá, poucos. Então 13 x 11 = 143 meses. Multiplicando por sete ou oito plantões por mês teríamos de 1.001 a 1.144 plantões, não sendo importante fixar quantos, precisamente, pois é apenas ordem de grandeza, em todo caso mais de mil dias. Como o regime é de 2 x 6 (dois dias trabalhados por seis de folga) ou 1 x 3, tive outros três mil dias fora, a que se devem somar as 12 ou 13 férias (12 x 30 = 360 ou 13 x 30 = 390 dias, em que também trabalhei; pois são 13 anos menos três meses, 13 x 365,25 = 4.748 dias menos 90 dias, 4.658 dias). Soma de 1 + 3 = 4. Dos três mil que passei em casa trabalhei quase todos, menos dez deles durante a operação, mas inclusive nas férias, sábados, domingos e feriados. Naqueles em que fiquei nos postos anotei títulos, idéias e patentes e li uma quantidade enorme de textos, enquanto os motoristas não vinham, ou antes de dormir, ou em qualquer tempo e lugar. Anotei nas viagens, mesmo que toscamente.

                            Não sou nenhum super-herói, você pode fazer a mesma coisa que fiz, e foi muito, acredite. Qualquer um pode fazer. Este texto visa justamente dizer que todos e cada um de nós pode fazer muito em prol da coletividade, se de fundo houver uma aguda identidade com a humanidade, se houver preocupação. A gente toda dá muitas desculpas, arranja muitos motivos para não fazer, de cansaço a picuinhas do dia a dia, porém o que há mesmo é tempo sobrando ou que se pode ajeitar para sobrar. E de qualquer modo 13 anos se passaram para todas as pessoas que estiveram vivas então: o que elas fizeram? Nós damos muitas desculpas, nós facilitamos demais nossa própria existência. O autoflagelamento é mais horrível ainda, não se esqueça.

                            Não é preciso anunciar ao mundo nos alto-falantes, você pode fazer maciamente, sem estardalhaço, sempre quieto e tranqüilo. Não fui só eu, infinitas pessoas trabalharam, criaturas extraordinárias cujas histórias a gente pode ler com devoção, como faço.

                            Sem pretextos se pode fazer muito. Bem que certa humanidade merece e bem que ela está precisando.

                            Vitória, sábado, 19 de março de 2005.

Nenhum comentário:

Postar um comentário