quinta-feira, 27 de outubro de 2016


Índice de Peços

 

É claro que a palavra “peços” não existe, o certo é peço, do verbo pedir, eu peço, tu pedes, ele pede, etc.

Aqui estamos tentando ilustrar vocês, pobres alunos vulgares e até deslustrados (que significa conspurcados) sobre as percepções finas da vida, que de outro modo vocês jamais alcançariam. Depois que inventaram a juventude os jovens estão muito ousados, como não eram em minha educação formal, aqui mesmo nesta universidade que vocês destroem.

Então, vejam, existem vários níveis do pedir.

OS NÍVEIS DO VERBO (há sutilezas no falar, a língua é tonal e manipulável, o ser humano achou jeito de não dizer e até dizer o contrário pronunciando as mesmas palavras – isso, obviamente, deveria estar sendo estudado pela Psicologia geral e até pela diplomacia)

ÍNDICE DO PEÇO
NÍVEL CULTURAL
EXEMPLO
Peço.
1, educado.
Peço à linda senhorita que está bem aqui na frente para sorrir mais e iluminar o auditório e este velho professor (ele não deixava de tentar, dizem que estava comendo uma do pedagógico).
Peço.
2, impositivo.
Peço que a senhorita aí no fundo da sala pare do cochichar no ouvido de sua amiga e preste atenção na aula senão vou lhe dar zero.
Peço.
3, imperativo.
Peço que os dois palhaços que riram para calarem a boca numa boa senão vai sobrar para os pais.
Peço.
4, grosseiro.
Peço ao segurança que coloque os dois bostinhas que riram do outro lado da sala para fora.
Peço.
5, enfrentamento.
Peço que os alunos esperem um minuto enquanto vou eu mesmo dar umas porradas neles.

Houve um grande tumulto, é lógico, o diretor da faculdade veio, não quis participar de nada, o professor já era aposentado, estava ali de graça, porque não queria ficar em casa, a esposa tinha morrido, colocou panos quentes em algumas cabeças e panos frios em outras.

Veio o reitor, porque alguns alunos sentirem-se incomodados, ele estava para aposentar, faltavam só dois anos, meu Deus, isso não vai passar nunca, cada dia está ficando mais difícil igual mola pressionada, quanto mais força faz mais o tempo encomprida, conversou com um por um, convenceu os recalcitrantes de que afinal de contas o professor tinha feito compreender, fez graça, tudo virou palhaçada, como em geral no Brasil, contou as mais recentes de Lulambão e Dilmandona, o pessoal sabia algumas, chegou a carrocinha do churrasco de gato e o cervejeiro, foi a conta.

Serra, domingo, 14 de fevereiro de 2016.

GAVA.

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