Os
Dias Estão Simplesmente Lotados
Watterson está certo.
CALVIN
E SUA CONSCIÊNCIA FAVORÁVEL-PARTICIPATIVA HAROLDO
Em vários lugares e tempos, nem tudo, ou fui
andando de ônibus e colecionando.
O ônibus passou do ponto, a passageira com
menino reclamou.
PASSAGEIRA – motorista, seu filho da puta,
você não ouviu o sinal?
O motorista não disse nada.
PASSAGEIRA – você sabe quem eu sou, seu
ordinário? (Entendi que era mulher de algum traficante da região).
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Mãe com menino maior e menina pequena de
colo.
MENINO (chegando a Serra sede) – mãe, aqui
que é favela?
MÃE – favela é lá naquele lugar onde você
mora. Você fala demais.
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Mãe com bebê no colo, homem alto, filho de
uns nove anos. O menino fala alguma coisa com a mãe, pai não gosta.
PAI – se você falar de novo vou te dar uma
rasteira, você vai cair de cara no chão.
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Supermercados Perim de Morada de Camburi.
AVÓ (com menina no colo) – você vai querer
levar umas porradinhas?
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Supermercado Extrabom de Jacaraípe.
PAI (furioso com o menino de uns oito anos)
– tá bem, vou comprar essa porra desse carrinho, mas se você estragar vou
enfiar a mão na sua cara.
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Quando eu tinha uns 48, no terminal de
Carapina.
RAPAZ – então venho eu lá da roça, 35 anos
de pedreira, pra uma lagartixa urbana tirar sarro de mim?
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Um para outro.
UM – e aí, seu irmão?
OUTRO – o Josué? Ele anda aprontando, mãe
tá brava.
UM – ela é braba?
OUTRO – braba? Ela tá preparando o cabo de
vassoura para ele.
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ENI (trocadora, apontando para fora) –
aquele cara lá é peixeiro, ele tá a fim de você.
RAQUEL (motorista, elas conversavam 35
minutos da viagem, era divertido) – qual?
ENI – aquele lá, ele tem uma peixeira
enorme, quer te dar uma punhalada.
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Uns 25 anos já, sempre esqueço os nomes,
invento outros.
UM – como é que você tá?
OUTRO – legal. E no mais?
UM – lembra do Ricardo?
OUTRO – nãããoooo. Qual Ricardo?
UM – o Ricardo da dona Carlota.
OUTRO – não tô lembrado.
O outro foi explicando até cair a ficha.
UM – o cara tava comendo a mulher dele, ele
foi tomar satisfação, o cara cobriu ele de porrada.
Os dois riam.
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O sujeito magrelo esmolambado estava com
uma camisa Be a Genius e foi incomodando os passageiros (apesar da proibição legal)
com som a toda altura, o radinho de pilha colado no ouvido, os 35 minutos da
viagem batendo com a cabeça na janela de vidro na cadeira dos fundos, à
direita.
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A moça com uma criança de colo e outra
andando entrou, perto da porta do meio estavam sentadas duas, uma fez gesto
de levantar, a mãe indicou com o queixo “vou precisar da outra também”, a
outra moça levantou.
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Certa vez a mulher gorda que sozinha
tomaria duas cadeiras sentou na da direita, colocou a bundona em cima dos
meus quadris, tentei não respirar, fui assim.
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Os dias estão completamente lotados.
Só é preciso andar com o caderninho ou ter a
memória mais afiada que a minha, a lista é grande.
Serra, sexta-feira, 05 de fevereiro de 2016.
GAVA.
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