segunda-feira, 31 de outubro de 2016


Patifaria

 

COMPRADOR – não sabia que já tinha isso ...

DONO (que estava de costas, levantou as sobrancelhas, arregalou os olhos, juntou os lábios no conhecido sentido de “Jesus, me abane, mais um idiota”, mas quando se virou estampava largo sorriso no rosto) – existe sim, como o senhor está vendo, do mesmo modo como existe pastelaria, revistaria, sorveteria, tudo isso.

COMPRADOR – mas autorizado, é legal?

DONO – claro que é, alvará da Prefeitura, tudo dentro da lei, pode olhar ali no quadro, emoldurado e tudo, registradíssimo, no estado também, pagamos impostos.

COMPRADOR – vocês vendem patifes?

DONO – sim, e patifarias também. Ficamos num dilema, pois se colocássemos Patifarias as pessoas pensariam que só vendemos a coisa pronta, sem treinamento para quem quer ingressar no ramo.

COMPRADOR – e vocês tem referências?

DONO (todo animado) – evidente! Congresso, juizado, Executivo, empresários de dentro e de fora, micros e gigantes, todos eles, sem falar nas pessoas físicas, pais de família ...

COMPRADOR (assombrado) – PAIS DE FAMÍLIA!

DONO (estranhando o passamento) – claro! E mães também. Ou como o senhor acha que eles se enganam uns aos outros? Até crianças, o senhor acredita? Jovens, adolescentes, vendedores, nossa clientela é vasta.

COMPRADOR – e os produtos são bons?

DONO (balançando a cabeça e o corpo em bamboleio em sinal de incredulidade) - ô, meu amigo! O Brasil está em primeiro lugar mundial, até parece que o senhor não sabe. Patifarias de qualidade e em quantidade.

COMPRADOR - tinha ideia, mas não venho acompanhando o ranking.

DONO – faz tempo, há três anos já, passamos o Paraguai.

COMPRADOR (estupefato) – O PARAGUAI???!!!!

DONO (aborrecido com o alheamento do outro) – com certeza. A Argentina (apesar dos esforços do Kirchner e da Kirchner, e do saudoso Ménen), a Venezuela de Chávez e Madero, tudo isso, ninguém bate o time brasileiro (FHCB, Lulambão, Dilmandona, Collorido, o grande Sarney como técnico, a seleção verde e amarela, 7 a 1, mas aí teve!).

COMPRADOR – lá isso é, nosso time é imbatível. O senhor pode citar alguns de seus produtos?

O dono foi citando, era patifaria que não acabava mais e os patifes estavam em todos os estados, inclusive no ES, que era precursor em vários assuntos.

COMPRADOR (vibrando) – não sabia disso ...

DONO (modesto) – para o senhor ver. Campeão. SE bem que o México, ninguém sabe o que rola por lá, a Colômbia, os cartéis, tão valorizando o Pablo, daqui a pouco vão estrear filme com ele de super-herói.

COMPRADOR – grande Pablo. Já estão, fizeram vários, se bem que não ainda de super.

DONO – e tem os EUA, 2002 com as pontocom, 2008 com as hipotecas NINJA (sigla em inglês significando sem renda, sem trabalho, sem patrimônio, um jeca; eles dizem subprime, mas o que isso indica? Vamos e venhamos, o outro nome é muito mais apelativo e indicativo), imbatíveis, tiro o chapéu, 34 TRILHÕES eles retiraram do povo e continuam vivendo à larga em suas mansões. Não é produto nosso, aí é coisa grande, de qualquer um bater continência.

COMPRADOR – aí não tem jeito, nem pode participar da competição, os EUA já seriam até covardia.

DONO – e a China também, são 45 séculos de trapaças - experiência, meu senhor, tradição, não é como no Brasil que 13 anos já vira tradição. Estamos falando de gente grande. Isso sem contar a Europa, puxa vida, ali seria quantidade que daria para a gente conversar uma vida inteira e qualidade com a qual a gente só pode sonhar.

COMPRADOR – mas, veja, estou precisando do seguinte ...

Serra, quarta-feira, 27 de janeiro de 2016.

GAVA.

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