Pastora VIII: Daniela
na Cova dos Gatões
A pastora Eunice
estava esfuziante, porque ela era abertamente a favor de redimensionar a Bíblia
para acomodar os 50 % (OU MAIS, dizia ela) de mulheres no mundo.
Os pastores nojentos,
claro, ficavam contra.
Embora alguns
tivessem aderido, a maioria quase total ainda era contra, marcava presença,
ficavam nos fundos, não piavam muito desde a questão das marteladas em que eles
forneceram as cucas e os fiéis os martelos. Ficavam caladinhos, mas tinha uma
hora em que algum novinho, ainda desconhecendo sua posição de prego, falava
alguma besteira, o povo era obrigado a chamar atenção, mostrando só os cabos,
sabendo que a outra ponta é que era para bater.
A IEMI (Igreja do
Evangelho Monangular Internacional; ela tinha conseguido a adesão espontânea
dos filhos quando ameaçou cortar a polpuda mesada que lhes dava a título de
representação nepótica, todos afinal tinham uma tarefa gratificada no templo)
ia de venda em popa, já que expressava o anseio do povo pagante, o povo dizimado,
que pagava o dízimo que era de Deus (a cargo da pastora, ela era apenas a
administradora), frente aquele muito de César, 30 % ou mais, dizem os chorões
sonegadores, veja o impostorômetro da FINDES lá na Reta da Penha, comparado com
(só) os 10 % do dízimo, 1/10, os filhos lhes explicaram: “só isso?”, mas era a
regra universal.
Com o chapelão de
sempre, os óculos cortados, agora cabelo bem tratado, saião de seda todo
florido, ela melhorava a olhos vistos e não vistos também, as contas estavam
controladas, o idiota do marido para alguma coisa servia, desde que com
superiorvisão.
PASTORA – lá estava a
Daniela na Cova dos Gatões...
DANIEL NA COVA DOS LEÕES
PASTOR IDIOTA NÃO SE CONTENDO
– pastora, aí já é demais, é DANIEL NA COVA DOS LEÕES! Não tem nenhuma Daniela,
era uma sociedade patriarcal, assim era o tempo, Deus sempre usou o que existe
para dar lições aos seres humanos. SE fosse escrita agora, aí sim, a presença
das mulheres seria marcada, mas naquele tempo, VÁRIOS MILHARES DE ANOS ATRÁS,
eram os homens mesmo, não eram seres humanos, não senhora.
PASTORA (colocando as
duas mãos fechadas na cintura em sinal de desafio) – você sabe o que é
parábola, você sabe o que é metáfora, meu filho?
Ela tinha aprendido
com os filhos essas duas novas palavras, estava usando a torto e a direito.
PASTOR (sentindo-se
ofendido) – sei, sim, senhora!
PASTORA – então?
Continuando de onde parei: lá estava Daniela na Cova dos Gatões (as ovelhas, não
os ovelhos, passaram as línguas nas bocas, beiçando ostensivamente), cês
acreditam que nenhum gatão comeu ela?
OVELHAS
(decepcionadas, fazendo muxoxo) – não, pastora?
PASTORA (dando com as
mãos) – não, acho que Deus tinha reservado algo maior para ela. Algo bitelo, eu
acho, grandão mesmo.
OVELHAS – éééééé...
Serra, quinta-feira,
21 de janeiro de 2016.
GAVA.
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