Pastora IV: Escola
Pastoral
Depois do quebra-pau,
que o RH Relações Humanas, porta voz contratado pela pastora (seus filhos
universitários, dava um dinheiro para as crianças, era confiável, melhorava a
comunicação com o público mais vasto lá fora, etc.) chamou de Divergências
Idiossincráticas, o modo estouvado/extrovertido da pastora foi ganhando adeptos
(“é isso mesmo”, “vamo botar pra quebrar”, “povo também é gente”,
“flexibilização do pensamento” – as crianças são fogo, tenho de admitir -,
“liberdade poética/profética”, coisas do gênero).
A pastora,
sentindo-se no foco, estava até se produzindo para ficar bem na fita, contratou
cabelereira, “unheira”, que era a moça da unha, diferente da pedicura e da
manicura, comprou roupas novas, umas 20 joias de ouro só, tremendo sucesso,
ainda maior conforme os capetas-pastores iam difamando, havia oposição,
necessária oposição para não haver uma linha só.
Uma vez foi um pastor
judeu, rabinho, sei lá, sentou lá nos fundos, só ficava balançando cabeça com
aquele trocinho no coco, solidéu, acho, o filho mais velho que falou, parecia
desgostoso, deixando de saber, por acaso eles que inventaram a Bíblia?
Depois foi um padre,
ficou esbravejando, o pessoal cercou ele, foi embora dar queixa na polícia, a
pastora “conversou” os meganhas, prometeu apresentar umas ovelhinhas, tudo
xodozinho, ganhou os hómi, foi tcham.
Então ela conseguiu
fazer a exposição que queria.
MAOMÉ FOGE DO FARAÓ (vários pastores
antes adversários aderiram)
PASTORA – então, foi
assim, Maomé fugiu com, sei lá, umas 600 pessoas do Egito lá por 1200 antes de
Cristo, não sei mesmo, gente, foi nesse tampo, foi antes da descoberta do
Brasil, e foi perseguido pela tropa de choque do Faraó, que era o presidente
daquela época, ele se afogou quando tentou passar o mar Vermelho a nado, ele e
os metralhas dele, turma maior barra pesada, gente de favela mesmo.
OUVINTE – pastora,
não seria Moisés?
PASTORA – onde você
ouviu isso?
OUVINTE – li na
Bíblia.
PASTORA – na Bíblia?
Em que parte?
OUVINTE – logo em
Gênesis, Pentateuco, significa cinco livros, Moisés foge do Faraó, mas com 600
mil pessoas, só contados os homens.
PASTORA (abrindo os
braços e balançando impaciente) – meu filho, você vai querer contar sua versão?
OUVINTE – não é minha
versão, pastora, é a real, está na Bíblia.
PASTORA (colocando a
mão no queixo) – gente, vocês querem ouvir a mim ou a ele?
GENTE – a senhora,
pastora.
PASTORA (apoiando-se
na borda do púlpito, agressiva) – então?
OUVINTE
(levantando-se para sair, enojado, cara feia) – vou embora.
PASTORA – já vai
tarde, cara feia pra mim é fome, quer um bife?
OUVINTE – não,
senhora, estou indo.
PASTORA – se é por
falta de adeus, até logo.
Serra, quinta-feira,
14 de janeiro de 2016.
GAVA.
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