Os Deuses Devem Estar
Loucos
Naturalmente, tratando-se
de deuses tudo era divino.
Por assim dizer
parecia-se com computador, mas, só para começar, funcionava, não tinha vírus,
não travava, não dava pau, não vinha programa que você não queria, não tinha
Edge nem W10, coisa de doido! Você pedia e tam, fração de segundo já tinha
caído. Automaticamente um programa parecido com o CCleaner (este já é gratuito
e maravilhoso, imagine aquele), que já ia limpando e desfragmentando, tirava os
arquivos duplos, mas só os desnecessários, não deixava entrar o Baidu
chinês nojento, o 123 mais nojento ainda, evitava o
vírus how_recover, era bom mesmo, Nossa Senhora.
Enfim, não tinha nada
daquelas coisas escrotas que vimos experimentando há 20 anos, infelizmente não
me deixaram experimentar, só ouvi explicações.
Para você ter ideia,
a Internet Celestial não ficava naquilo de “esta página não pode ser exibida” e
a velocidade da luz era a da luz no vácuo, não faziam questão oferecer um
milésimo ou um milionésimo ou um bilionésimo dela como se fosse vitória
universal, como no Espírito Santo, aquela era uma beleza.
Ai, ai, fico
sonhando.
E a pessoa ficava no
ar, numa poltrona virtual que inclinava para trás e para frente, para os lados,
baixava e levantava, tinha lugar para copo que não atrapalhava e não derramava,
tinha uma plataforma dianteira para o teclado, se bem que nem precisava, ele
era virtual também, tocava-se no ar.
Nem vou continuar
para não dar água na boca.
E ali ficavam os
deuses trabalhando, instalando doenças nas pessoas.
UMDEUS – e aí,
Rabicó? (Era um espírito de porco, tinha mesmo um rabinho atrás).
RABICÓ – tô bem, e
você, Uar? (Não era war, guerra em inglês, sei lá como é o sistema de apelidos
dos deuses, caramba! Vá perguntar a outro).
UAR – legal, tô
passeando para distrair. Que cê tá fazendo?
RABICÓ – peguei um
cara, senta aí pra ver. Tem quatro anos que tô só com ele.
UAR – mas não é
proibido? Você vai ser castigado, não pode ter preferência, sem fixação, tá
lembrado?
RABICÓ – deixando de
saber. Primeiro foi a glicose que não baixava, estava bem, fiz ele entrar numa
série de remédios caros que não funcionavam, ficou em 200 a 300 um tempão. Sem
falar que nos supermercados quando oferecem leite sem lactose, colocam açúcar,
com letrinhas miudíssimas falando disso. Cara, é gratificante.
UAR (doidinho pra
sair e ir contar para o gerente) – rapaz, só você mesmo.
RABICÓ – depois
coloquei pra rebentar no cólon ascendente, cólon transverso, cólon descendente,
dor de cabeça, refluxo (infelizmente o corno parou de beber, era muito mais
divertido, todo dia tinha, uma beleza!). E o idiota fazendo regime, tomava os
remédios certos, deixou de tomar, voltou a tomar. Leu uns livros aí, Barriga
de Tribo, de William Davis, Superimunidade, de Joel Fuhrman, e
está lendo os livros de David Perlmutter, puta que os pariu.
UAR – de fato, parece
que está ajudando, tiraram vários clientes meus, acho até que vou ler.
RABICÓ – estou
super-revoltado. Enfim, teve uma muito engraçada, ele comeu uma bacia de
mexericas, deu enorme dor no peito, ele achou que era infarto, foi ao hospital,
a médica jovem queria “abrir”, era somente açúcar no intestino, prejudiquei a
flora e a fauna bacteriana, não é que o sacana conseguiu raciocinar? Ri muito
da mediquinha dizendo “vamos abrir o senhor”, igual uma melancia ou um pimentão,
muito hilário.
UAR – não acredito!
RABICÓ (arregalando
os olhos para a incredulidade do outro) – não estou te dizendo!
UAR (mais uma para os
ouvidos da gerência) – rapaz, você é o maioral (essa teria repercussão,
denúncia anônima, não iria poder ficar com o mérito, fazer o quê?).
RABICÓ – quatro anos,
mais, na realidade, tou cansado, tou no meu limite, foi mais, mas não vou
dizer, tô nem aí se vou ser castigado, foi bom demais. Diliça!
UAR – rapaz, não
queria estar na sua pele.
RABICÓ (virando-se e
prestando atenção) – você não vai me dedar, né?
UAR (olhando firme nos
olhos do outro, sendo super-falso) – de jeito nenhum! Aqui você tem verdadeiro
amigo (Estava se coçando para ir logo entregar, chegava a dar tremedeira nas
pernas, mas tinha de aguentar, os joelhos estavam bambos).
Serra, domingo, 17 de
janeiro de 2016.
GAVA.
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