Prezado De-Fundo
Ali estavam os
parentes e os amigos, o padre, os coveiros e os ajudantes de coveiro, todos na
cerimônia educada pós-contemporânea de encomendar a alma do falecido e enterrar
o corpo do de-fundo, sete palmos de terra que é para ele nunca mais aparecer,
esse pulha.
Alguns dos presentes
realmente sentiam o que aparecia no rosto, um furúnculo aqui, um cravo acolá, a
mancha borrada da tatuagem passageira das mulheres, a pintura - as mulheres
sabiam esconder menos (ou mais), algumas até choravam, era a emoção de ficar
com tudo do morto; as crianças, coitadas, essas realmente estavam sentindo.
A COVA PÓS-CONTEMPORÂNEA
Transporte, tudo muito confortável para o
morto.
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20 mil km de desafetos dos impérios
chineses.
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O ideal das ditaduras, o morto
comportadinho.
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O morto ecologicamente correto.
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As pessoas estão enterrando a sete palmos ou mais
para não deixar em evidência, a imprensa noticia tudo, é preciso entender,
ela não tem nada de útil mesmo para fazer.
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Quem tomou um uísquinho antes, tudo bem, quem não
tomou vai ter de esperar comportadinho.
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O de-fundo fica num apartamento bem pequeno,
mas também não se mexe muito, nem reclama, se bem que há uns que deixam as
palavras para trás para infernizar os outros.
Escrevem, escrevem, escrevem.
As pessoas vão às bibliotecas, às bancas de
revistas, às livrarias e os desenterram, eles começam a falar e não param mais.
Serra, domingo, 10 de janeiro de 2016.
GAVA.
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