segunda-feira, 31 de outubro de 2016


Prezado De-Fundo

 

Ali estavam os parentes e os amigos, o padre, os coveiros e os ajudantes de coveiro, todos na cerimônia educada pós-contemporânea de encomendar a alma do falecido e enterrar o corpo do de-fundo, sete palmos de terra que é para ele nunca mais aparecer, esse pulha.

Alguns dos presentes realmente sentiam o que aparecia no rosto, um furúnculo aqui, um cravo acolá, a mancha borrada da tatuagem passageira das mulheres, a pintura - as mulheres sabiam esconder menos (ou mais), algumas até choravam, era a emoção de ficar com tudo do morto; as crianças, coitadas, essas realmente estavam sentindo.

A COVA PÓS-CONTEMPORÂNEA

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Transporte, tudo muito confortável para o morto.
http://www.despedidasbig.com/blog/wp-content/uploads/2014/12/muralla.jpg
20 mil km de desafetos dos impérios chineses.
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O ideal das ditaduras, o morto comportadinho.
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O morto ecologicamente correto.
http://migueldl.blog.uol.com.br/images/Aqui_jaz.jpg 
As pessoas estão enterrando a sete palmos ou mais para não deixar em evidência, a imprensa noticia tudo, é preciso entender, ela não tem nada de útil mesmo para fazer.
https://melhorescoisas.files.wordpress.com/2011/03/six-feet-under.jpg
Quem tomou um uísquinho antes, tudo bem, quem não tomou vai ter de esperar comportadinho.

O de-fundo fica num apartamento bem pequeno, mas também não se mexe muito, nem reclama, se bem que há uns que deixam as palavras para trás para infernizar os outros.

Escrevem, escrevem, escrevem.

As pessoas vão às bibliotecas, às bancas de revistas, às livrarias e os desenterram, eles começam a falar e não param mais.

Serra, domingo, 10 de janeiro de 2016.

GAVA.

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