MSA - Movimento dos
Sem Abrigo
Só tinha mais 10 na
sala, mas esses hábitos são difíceis de extirpar.
EX-TIRP/AÇÃO (faz que vai, mas
não vai, como diz o povo; o polvo tem braços compridos e está em toda parte,
só precisa ensinar como pegar os tubarões)
No governo Geisel, o presidente militar –
premido a dar respostas idiotas à crise do petróleo de 1973 – instituiu o Ministério
da Desburocratização, criando burocracia para desburocratizar, pelo título vi
que não iria dar certo.
O dito ministro foi ser entrevistado na TV,
emissora, o que vimos pelo TV, aparelho, levou caneta e bloquinho que ficava
usando para anotar o tempo inteiro. Vi de novo que não iria dar certo.
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PRESIDENTE – senhor secretário, há quórum?
SECRETÁRIO (olhando em volta) – sim, senhor
presidente, a célula toda está aqui.
PRESIDENTE (mundialmente cada um tomava o
nome de um destacado artista, religioso, cientista ou o que fosse) – Newton,
você quer começar?
NEWTON – obrigado, Picasso. De fato, chegou a
hora das contribuições. Matisse, e você?
MATISSE – 50 milhões?
NEWTON – cada um que você quiser que fique.
MATISSE – cada um?
NEWTON – sim, cada um, se não quiser tem
gente que quer.
MATISSE (se ele quisesse sair da célula seria
morto e, realmente, o que iria fazer com o dinheiro depois? Depois da queda do
meteorito sobraria quase nada, tudo era questão de mover as pessoas agora,
dar-lhes esperança de futuro) – então, se levar a mulher e as três meninas
serão 250 milhões.
GOZADOR – é, você está bom em aritmética.
MATISSE – pode levar o namorado da mais
velha?
NEWTON (cauteloso) – poder, pode, mais 50, a
questão é que vai abrindo muito, vira árvore, você sabe, um vai contar para os
dois melhores amigos, que por sua vez contam para outros, daqui a pouco temos
300 mil folhas. O buraco é pequeno, né?
MATISSE – é melhor não, né, Popper?
POPPER (enfático) – claro que não! Tá doido?
Nesse momento você tem de ser completamente frio, nem mãe, nem pai, nem primos
em segundo grau, se eles não estiverem em outro buraco tão fudidos. E só
deixamos por 50 pra você, porque gostamos de você e há suas habilidades (cada
qual dominava a área de que escolhia o nome, nas outras células - que só o
presidente conhecia - era a mesma coisa, excludente, se ia em uma não ia na
outra, exceto o presidente, que podia repetir, por exemplo, artista).
MATISSE (se sentindo ameaçado com a ênfase e
os olhares em volta, se bobeasse pegariam a mulher, as filhas e o dinheiro, ele
estaria morto antes de entrar) – a questão é o helicóptero, não posso mantê-lo
no telhado.
POPPER (irritado) – pôrra, você é algum,
idiota? Tem de ter criatividade.
PRESIDENTE (interferindo para acalmar os
ânimos) – Agostinho (era Santo Agostinho, maior intimidade), como vão as obras?
AGOSTINHO (sempre muito formal, além de
estudioso da história da Igreja era contador, todas as habilidades eram duplas,
triplas, quádruplas, não era só o dinheiro que contava, dinheiro por dinheiro
tem muito por aí e nem porisso eles ficavam sabendo, estavam mais por fora que
umbigo de vedete, igual o povo) – de vento em popa, senhor presidente. Coloquei
uma firma de extração de brita, firma ecológica, tiro as pedras de dentro, a
face da pedreira continua com árvores e grama, tudo nos conformes, o pessoal me
elogia.
PRESIDENTE – e a alimentação, Roosevelt?
ROOSEVELT – tudo em ordem, enlatados de longa
duração, as cargas chegam de noite disfarçadas de maquinaria. Quanto tempo
temos, Picasso?
PICASSO – quatro, cinco anos, seis no máximo,
ainda estão calculando, é certo que vai atingir, mas a velocidade lá nos
extremos é pequena, o puxão gravitacional é pequeno. Eiffel, e aquele caso
controverso, foi resolvido?
EIFFEL – sim, completamente a contento e
ainda pegamos o dinheiro dele. Trazemos a mulher e o filho?
PICASSO – não, o Matisse entrou no lugar,
completou.
Matisse ficou caladinho, agradecendo a Deus.
Como a filha do presidente (ele tinha esses privilégios, a falta de poder
contar pesava muito) disse quando ele falou do cenário de depois e perguntou
“quem vai querer viver num mundo desses? ”, ela respondeu “quem estiver vivo”,
muito esperta. Boca de siri, siri com muito juízo. O presidente contou e todos
riram muito. Amizade, amizade, sobrevivência à parte. Como disse a Blitz, “eu
me amo, eu me adoro, eu não consigo ficar sem mim”.
Serra, sexta-feira, 15 de janeiro de 2016.
GAVA.
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