sábado, 29 de outubro de 2016


Natalie

 

NATALIE, FEVERS

Tudo é triste em meu viver
Não consigo nem sonhar
Eu não queria te perder
Pois teu amor é tudo para mim

Nathalie, Nathalie
Não estás mais aqui
Nathalie sem amor, o que farei

Nathalie, Nathalie
Já tentei te esquecer
Foi tudo em vão
Não sei viver sem ti
Pode ser que exista alguém
Ocupando o meu lugar
Mesmo assim esperarei
Pois eu bem sei
Que irás voltar

O vovô estava sentado no banco da praça, num daqueles verdes de tábuas, dando comida aos pombos, embora houvesse uma placa “não dê comida aos pombos” em total evidência, bem na cara, velho não obedece mesmo, é inútil, é para chamar atenção dos guardas e pelo menos tomar esporro educado, talvez puxar conversa.

Ia passando um casal de idosos também, ela ficou olhando para ele, reconheceu-o. Vinham acompanhados de um jovem de uns 25 anos.

ELA – Rico?

RICO (olhando sem reconhecer por uns minutos) – oi, você continua linda, depois de tantos anos ...

ELA – Rico Ricochete! Puxa, que prazer (quando faz tanta festa já deu).

ELA – Ramos, esse é o Ricochete, te falei tanto dele, meu amigo de juventude, tantas festas.

RAMOS (estendendo a mão, não gostando nada de “tantas festas”) – prazer, como vai?

RICO – prazer, Ataíde.

ELA – e aí, casou?

RICO – não.

ELA (esfuziante) – eu casei, vamos completar 50 anos setembro do ano que vem.

ATAÍDE – puxa, o tempo passa.

ELA – esse aqui é meu neto mais velho, fez mecatrônica (as invenções desses jovens, nem sei o que é, ela cochichou), fez mestrado, está indo para o doutorado. Filho do Ataíde. Tivemos quatro, todos homens.

ATAÍDE – ah!

RAMOS (agora entendendo tudo, cascudo criando filho de barrigudo) – ah!

ELA – bons tempos aqueles.

RAMOS (sentido calor, querendo sair) – é, devem ter sido bons.

ELA (sentando-se no banco, encostadinho, Ramos não ficou nada satisfeito, “pôrra, comeu, filho e tudo, porisso que ela queria casar rápido, pensei que era meu”) – e você? Conte mais.

ATAÍDE – não casei, trabalhei os 35 anos, fiz faculdade de engenharia, trabalhei para o governo na capital, órgão rodoviário, aposentei tem 10 anos, tô por aqui.

Conversaram mais um tempo, Ramos reparando que estavam com as pernas muito juntinhas.

RAMOS – meu bem, temos de ir.

GAROTO (a cara do pai, a cara do avô) – é, vó, temos de encontrar mamãe, tá lembrada?

ELA – ih, é mesmo, Ataíde, foi um prazer enorme te ver (Ramos reparou para ver se o enorme era ENORME ou tinha conotação, não tinha, não era, era normal). Estamos indo, adiante nos vemos (Ramos franziu a boca). Você vai ficar por aqui?

ATAÍDE – não, acho que minha pressão caiu, vou até o pronto socorro aqui perto. Prazer em ver vocês, garoto, Ramos, Natalie.

Serra, segunda-feira, 08 de fevereiro de 2016.

GAVA.

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