Natalie
NATALIE,
FEVERS
Tudo é triste em meu viver
Não consigo nem sonhar Eu não queria te perder Pois teu amor é tudo para mim Nathalie, Nathalie Não estás mais aqui Nathalie sem amor, o que farei Nathalie, Nathalie Já tentei te esquecer Foi tudo em vão Não sei viver sem ti Pode ser que exista alguém Ocupando o meu lugar Mesmo assim esperarei Pois eu bem sei
Que irás voltar
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O vovô estava sentado no banco da praça, num
daqueles verdes de tábuas, dando comida aos pombos, embora houvesse uma placa
“não dê comida aos pombos” em total evidência, bem na cara, velho não obedece
mesmo, é inútil, é para chamar atenção dos guardas e pelo menos tomar esporro
educado, talvez puxar conversa.
Ia passando um casal de idosos também, ela
ficou olhando para ele, reconheceu-o. Vinham acompanhados de um jovem de uns 25
anos.
ELA – Rico?
RICO (olhando sem reconhecer por uns minutos)
– oi, você continua linda, depois de tantos anos ...
ELA – Rico Ricochete! Puxa, que prazer
(quando faz tanta festa já deu).
ELA – Ramos, esse é o Ricochete, te falei
tanto dele, meu amigo de juventude, tantas festas.
RAMOS (estendendo a mão, não gostando nada de
“tantas festas”) – prazer, como vai?
RICO – prazer, Ataíde.
ELA – e aí, casou?
RICO – não.
ELA (esfuziante) – eu casei, vamos completar
50 anos setembro do ano que vem.
ATAÍDE – puxa, o tempo passa.
ELA – esse aqui é meu neto mais velho, fez
mecatrônica (as
invenções desses jovens, nem sei o que é, ela cochichou), fez mestrado, está
indo para o doutorado. Filho do Ataíde. Tivemos quatro, todos homens.
ATAÍDE – ah!
RAMOS (agora entendendo tudo, cascudo criando
filho de barrigudo) – ah!
ELA – bons tempos aqueles.
RAMOS (sentido calor, querendo sair) – é,
devem ter sido bons.
ELA (sentando-se no banco, encostadinho, Ramos
não ficou nada satisfeito, “pôrra, comeu, filho e tudo, porisso que ela queria
casar rápido, pensei que era meu”) – e você? Conte mais.
ATAÍDE – não casei, trabalhei os 35 anos, fiz
faculdade de engenharia, trabalhei para o governo na capital, órgão rodoviário,
aposentei tem 10 anos, tô por aqui.
Conversaram mais um tempo, Ramos reparando
que estavam com as pernas muito juntinhas.
RAMOS – meu bem, temos de ir.
GAROTO (a cara do pai, a cara do avô) – é,
vó, temos de encontrar mamãe, tá lembrada?
ELA – ih, é mesmo, Ataíde, foi um prazer
enorme te ver (Ramos reparou para ver se o enorme era ENORME ou tinha
conotação, não tinha, não era, era normal). Estamos indo, adiante nos vemos
(Ramos franziu a boca). Você vai ficar por aqui?
ATAÍDE – não, acho que minha pressão caiu,
vou até o pronto socorro aqui perto. Prazer em ver vocês, garoto, Ramos,
Natalie.
Serra, segunda-feira, 08 de fevereiro de
2016.
GAVA.
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