Criança
Diz Cada Urna
Criança diz cada uma, criança fala cada
coisa, está bem espalhado no mundo, seria preciso colher, porque a criança ao
falar ainda não tem nossos impedimentos, nossas sujeições ao falar/falhar
alheio, que incorporamos em nossas tabelas de bocha, os nossos limites, os nossos
“se oriente, rapaz”, antes do “seja comum-ordinário”, seja fiel à banalidade e
à mesmice.
Há que pensar também que tudo que dizemos em
razão-palavras ou em tons-emoções vai para a cabeça-coração delas e elas nos devolvem
quando adultas: adultos malcriados são os pais e mães desalmados que fomos,
fora a parte que lhes compete enquanto indivíduos.
Elas votam em nós quando adultos.
DIGA-ME, DIGA-ME
MUITO, COMO SE FOSSE A ÚLTIMA VEZ (fala a música Besame Mucho de Los
Panchos doutro modo)
A Redação
Goiânia - Cresci me deliciando com a
coluna “Criança diz cada uma”, do dramaturgo, médico e escritor Pedro Bloch,
na extinta revista “Manchete”. Toda semana, ele relatava algumas tiradas dos
pequenos que atendia em seu consultório pediátrico. Como na sexta-feira (12/10)
se comemora o dia deles, decidi reunir as melhores pérolas contadas por meus
amigos que têm filhos nos últimos meses, e compartilhar aqui, com você,
leitor:
Laura, 4 anos A mãe, divorciada, arranjou um namorado. A avó materna pergunta à garota: - Está gostando do novo namorado da sua mãe, Laurinha?
- Não, vovó.
- Por que?
- Toda vez que a minha mamãe encontra com ele, ela volta chorando pra
casa. Acho que é porque ele coloca ela de castigo!
João Pedro, 7 anos. Enquanto escova os dentes, diz à mãe: - Mãe, sabia que este corpo não é meu? Deus só me emprestou. O que eu sou mesmo é o que tem dentro dele. Rafaela, 5 anos Rafaela passeia com o pai no shopping. Pede para brincar em joguinhos eletrônicos e joga. Pede chiclete, ganha. Lá pelas tantas, diz: - Papai, você é um comprão! - Por que? O que é ‘comprão’, filha? - É um pai que compra tudo pras crianças!
Tomás, 8 anos
Entra no quarto da mãe e tem o seguinte diálogo: - Mãe, me deixa dormir na sua cama... - Filho, você está tão crescido. - Mas é que eu posso ter um pesadelo e quando estou do seu lado, me sinto o mais protegido dos meninos. - Filho, você nunca está sozinho e Papai do Céu está sempre de olho em você. - Sabe o que é, mãe? Você só tem que me olhar e Deus tem que olhar todo mundo e ainda anotar as besteiras que os grandes fazem. É muita coisa para Ele. - É muita coisa, mas Ele dá conta. - Mas tadinho, mãe. É melhor você mesma me olhar hoje à noite e dar uma folga para Deus.
* Agradecimentos especiais aos amigos Ana Canêdo, Cláudia Barbosa,
Danilo Macedo, Luísa Dias, Nubya Castro, Rodrigo Ledo e Víbia Camargo, sem os
quais o compartilhamento dessas pérolas infantis seria impossível.
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As crianças são um prato cheio para os
psicólogos que, como sempre, passaram longe do mais interessante: as crianças
são, em relação ao nosso tempo no planeta, alienígenas, vieram de fora da
cultura, não possuem travas e dependências como nós. Elas não estão ainda
fechadas, trancadas em caixas, compactadas em cubos pelas compressões
civilizatórias-culturais, nossas médias, nossas obediências ao comum, ao
trivial, à repetição quando adultos.
Além de darem respostas às PESSOAS
(indivíduos, famílias, grupos, empresas) e AMBIENTES (cidades-municípios,
estados, nações, mundo), elas estão comunicando EM PRIMEIRA RAZÃO não
doutrinada e em PRIMEIRA EMOÇÃO não submetida, o que pensam, como veem as coisas
todas antes que as domestiquemos nas escolas, nos currais pedagógicos.
Dezenas de milhares de anos e bilhões não
anotados, só porque as achamos bobas – tremendo desperdício compreensivo.
Vitória, sexta-feira, 28 de outubro de 2016.
GAVA.
ANEXO
Cuca Super Legal
Definições interessantes:
- Alegria é um palhacinho no coração da gente.
- Arco-íris é uma ponte de vento.
- Avestruz é a girafa dos passarinhos.
- Calcanhar é o queixo do pé.
- Chope é o refrigerante de adulto.
- Cobra é um bicho que só tem rabo.
- Deserto é uma floresta sem árvores.
- Esperança é um pedaço da gente que sabe que vai
dar certo.
- Felicidade é uma palavra que tem música.
- Helicóptero é um carro com ventilador em cima.
- Paciência é uma coisa que mamãe perde sempre.
- Palhaço é um homem todo pintado de piadas.
- Rede é uma porção de buracos amarrados com
barbante.
- Relâmpago é um barulho rabiscando o céu.
- Sono é saudade de dormir.
- Vento é ar com muita pressa.
Havia, na revista 'Pais e Filhos',
um espaço de Pedro Bloch, pediatra e teatrólogo, de coisas engraçadas que as
crianças diziam.
Essas historinhas são verdadeiras:
Uma menina estava conversando com a sua professora. A professora disse que era fisicamente impossível que uma baleia engula um ser humano porque apesar de ser um mamífero muito grande, a sua garganta é muito pequena. A menina afirmou que Jonas foi engolido por uma baleia. Irritada, a professora repetiu que uma baleia não poderia engolir nenhum ser humano; era fisicamente impossível. A menina, então disse: 'Quando eu morrer e for ao céu, vou perguntar a Jonas'. A professora lhe perguntou: - 'E o que vai acontecer se Jonas tiver ido ao inferno?' A menina respondeu: - 'Aí a senhora pergunta.'
Uma professora de creche
observava as crianças de sua turma desenhando. Ocasionalmente passeava pela sala para ver os trabalhos de cada criança. Quando chegou perto de uma menina que trabalhava intensamente, perguntou o que desenhava. A menina respondeu: -'Estou desenhando Deus.' A professora parou e disse: -'Mas ninguém sabe como é Deus.' Sem piscar e sem levantar os olhos de seu desenho, a menina respondeu: - 'Saberão dentro de um minuto'.
Uma honesta menina de sete anos admitiu
calmamente a seus pais que Luis Miguel havia lhe dado um beijo depois da
aula.
- 'E como aconteceu isso?' Perguntou a mãe assustada. - 'Não foi fácil', admitiu a pequena senhorita, 'mas três meninas me ajudaram a segurá-lo'.
Um dia, uma menina estava sentada observando sua
mãe lavar os pratos na cozinha. De repente, percebeu que sua mãe tinha vários
cabelos brancos que sobressaíam entre a sua cabeleira escura. Olhou para sua
mãe e lhe perguntou:
- 'Porque você tem tantos cabelos brancos, mamãe?' A mãe respondeu: - 'Bom, cada vez que você faz algo de ruim e me faz chorar ou me faz triste, um de meus cabelos fica branco.' A menina digeriu esta revelação por alguns instantes e logo disse: - 'Mãe, porque TODOS os cabelos de minha avó estão brancos?'
Um menino de três anos foi com seu pai ver uma
ninhada de gatinhos que haviam acabado de nascer. De volta a casa, contou,
com excitação, para sua mãe que havia gatinhos e gatinhas.
'Como você soube disso?' perguntou a mãe. - 'Papai os levantou e olhou por baixo', respondeu o menino. 'Acho que ali estava a etiqueta'.
Todas as crianças haviam saído na fotografia e a
professora estava tentando persuadi-los a comprar uma cópia da foto do grupo.
- 'Imaginem que bonito será quando vocês forem grandes e todos disserem: ali está Catarina, é advogada, ou também 'Este é o Miguel. Agora é médico'. Ouviu-se uma vozinha vinda do fundo da sala:- 'E ali está a professora. Já morreu.
Antonio, seis ou sete anos tinha o aniversário de
um amigo, o Bruno, lá num daqueles bufês no Itaim. Festa das seis às nove da
noite. O pai Lorenzo, conhecido por suas distrações cá no Brasil, ficou de
levar o garoto ao tal bufê. Depois iria pegar a Emília, iriam a um cinema e
voltariam para buscar o menino.
E assim foi feito. Lorenzo deixou Antonio no
bufê, pegou a esposa e foram para o cinema. Nove da noite, conforme o
combinado, foram buscar o pimpolho. Tocaram a companhia, veio o menino.
Já no carro:
- Tava boa a festa do Bruno, filho?
- A festa tava boa, só que você errou de bufê.
Era aniversário de uma menina que eu nunca tinha visto na vida. Mas foi
legal. Ajudei até o mágico. O nome dela é Andréa.
Deu-se que o pai da Silvia morreu, o velho e bom
Lori. Maria, cinco anos, insistiu em ir ao velório ver o avô morto. Foi
levada (nos dois sentidos).
No colo da mãe ficou ali alguns segundos, olhando
para o avô. A sala cheia. De repente ela pergunta bem alto, como são,
geralmente, as perguntas impertinentes:
- Mãe, como é que ele sabe que morreu?
Esse protagonista se chama Antonio. Um dia, ele
tinha uns quatro anos, dei uma bronca nele sei lá porque e ele me xingou,
feroz:
- Você é uma anta!!!
No que eu, sem perder a calma, perguntei:
- Ah, é? E quem é filho de anta, o que que é?
Pensou dois segundos e me desarmou completamente:
- Filho de anta é... é... Antonio!
Uma minha prima, hoje já casada e com dois
filhos, quando tinha uns doze anos a mãe a chamou para um reservado:
- Hoje eu vou lhe ensinar o que é sexo.
A menina já fez cara feia. E a mãe começou lá
pelo princípio com a história da maçã.
- Uma vez Adão e Eva estavam no paraíso e...
- Isso eu já sei. Pula.
- O homem tem uma sementinha e...
- Isso eu já sei. Vai mais para a frente.
- Bem, para nascer uma criança é preciso que...
- Pô, mãe, eu sei como é. Pode pular essa parte.
- Bem, a mulher ter um órgão chamado útero...
- Grande novidade, mãe.
- O espermatozoide tem umas substâncias...
- A porra.
- Isso. Escuta aqui, menina. O que é que você não
sabe?
- O que é que a senhora ser saber? Pode
perguntar, mãe. Pergunta!
E tinha um garotinho que era infernal. Brigava
todo dia na escola. Um dia, no almoço, o pai, para testar seus conhecimentos
bíblicos (ele estudava num colégio de padre), perguntou:
- Meu filho, me diz quem foi que jogou a pedra no
Golias.
O garoto desatou a chorar.
- Tá vendo, mãe? Tudo eu. Tudo eu. Juro, pai,
juro pelo que é de mais sagrado que eu nem conheço esse menino.
Aninha já estava com dois anos. Loira, linda.
Nunca tinha cortado o cabelo. Eram amarelo-ouro e cacheados. "Parecia um
anjinho barroco", diz a mãe coruja.
Lá um dia, a mãe pega uma enorme tesoura e
resolve dar um trato na cabeça da criança, pois as melenas já estavam nos
ombros. Chama a menina, que chega ressabiada, olhando a cintilante tesoura.
- Mamãe vai cortar a cabelinho da Aninha.
Aninha olha para a tesoura, se apavora.
- Não quero, não quero, não quero!!!
- Não dói nada...
- Não quero!, já disse.
E sai correndo. A mãe sai correndo atrás. Com a
tesoura na mão. A muito custo, consegue tirar a filha que estava debaixo da
cama, chorando, temendo o pior. Consola a filha. Sentam-se na cama. Dá um
tempo. A menina para de chorar. Mas não tira o olho da tesoura.
- Olha, meu amor, a mamãe promete cortar só dois
dedinhos.
Aninha abre as duas mãos, já submissa, desata o
choro, perguntando, olhando para a enorme tesoura e para a própria mãozinha:
- Quais deles, mãe?
Claudia tinha seis anos. Seus pais se separaram.
O pai arrumou outra namorada e a engravidou. Resolveu ter o filho. Foi contar
para a Claudia, filha do primeiro casamento.
- Filhinha, o papi quer te contar uma novidade.
- Ahn...
- Você vai ganhar um irmãozinho.
- A mamãe tá grávida?
- Não, filhinha. É com a minha namorada.
Claudinha fica intrigada. Seis anos:
- Mas como é que você vai ter um filho com a
Fernanda se vocês não são casados?
O pai se embaraça, sai pela tangente:
- Sabe o que é, filhinha, a cegonha errou a data,
entende?
- Cegonha, papi? Cegonha?
- É, errou a data... Acontece...
- Papi, eu estou achando que você andou colocando
uma sementinha na Fernanda!!!
E o pai daquele garotinho, o Bruno, foi designado
para trabalhar em Washington durante dois anos. Na viagem, a mãe foi
explicando ao Bruno, quatro anos, como seria a vida nos Estados Unidos, que
lá é tudo diferente, o povo, a comida e, principalmente, a língua.
Bruno ouvia tudo, no avião, muito curioso.
- Como que é a língua, mãe?
- É outra língua, completamente diferente. Mas,
com o tempo, você vai se acostumando.
Uma semana depois, a mãe vai buscar o filho na
escola, depois do primeiro dia de aula. Bruno tinha passado o dia inteiro lá.
Vem a professora americana, toda preocupada:
- Seu filho é um amor. Participou de todas as
atividades. Só que não disse uma única palavra. Não abriu a boca nem na hora
do lanche.
Voltando para a casa, a mãe pergunta ao filho:
- A professora me disse que você não abriu a boca
nem para comer. Sem fome, filho? Estranhou a comida?
- E eu sou bobo? Se eu abro a boca eles trocam a
minha língua...
- O primo fazia primeira comunhão. Ele viu o
Padre preparando a consagração, pegando o cálice, mostrando, dobrando o lenço,
ajoelhando... então me perguntou:
- Mãe, ele vai fazer mágica?
Quando meu pai morreu meu filho mais velho tinha
3 anos e alguns dias depois quando ele foi a casa de minha mãe eu preveni:
" A vovó está sentindo muito a falta do vovô, você vai ver que ela está
muito séria..." Depois de entrar, ele beijou minha mãe, sentou ao lado
dela e perguntou: " Você está triste Vó?" e ela: "Estou."
Aí ele perguntou, meio dando bronca: " Então porque você não foi morrer
com ele?" Minha mãe caiu na gargalhada!
- Filha, o que vc vai querer ser quando crescer?
- Polícia! - Polícia, filha? Por quê? - Pra prender a enfermeira! Ela picou todo o meu braço!
Lá vai minha mana levando meu sobrinho no
elevador comercial, ele precisava fazer exame de fezes.
Entra alguém no elevador, e ele:
- Adivinha o que minha mãe tem na bolsa?
e a moça simpática: - Balinha? E ele, louro e sardento com a cara mais linda do mundo:- nãaaaaaao.... ela: um boneco? ele: nãããoooo.... ela: ah, então não sei. ele radiante:- cocô! |
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