Quando, Depois do
Fim, Tudo Continuou
De um lado, no Natal
de 1991 Bush Sênior, Frankenstein pai proferiu o discurso sobre o fim da URSS,
do outro lado Gorbatchov fez a mesma coisa. Bush atribuiu ao capitalismo a
vitória na Guerra Fria, Gorbatchov ficou calado sobre ter minado de dentro,
ainda estava lá, alguém poderia revidar.
QUEDA
OESTE, OCIDENTE
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LESTE, ORIENTE
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Bush de fora.
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Gorbatchov de dentro.
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As câmeras não mostraram a cena na Praça do
Kremlin, onde uma multidão fazia fila no frio terrível de Moscou para visitar o
Túmulo de Lênin, todo mundo com aqueles casacões russos, com aquele gorro de
pele de lontra ou o que seja, com os rabinhos ainda, pobres criaturinhas,
vítimas dos costumes.
ALGUÉM (chegando esbaforido) – a União
Soviética caiu.
VÁRIOS (esticando as orelhas, notícia tão
terrível dessas) – o quê, o quê?
ALGUÉM (tomando fôlego, gritando para os
outros) – o camarada Gorbatchov anunciou na TV, vi e ouvi, a URSS acabou mesmo,
terminou, findou, já era.
A turba ficou agitada, alguns não se
aguentaram, deram gritinhos histéricos, eram mulheres, certamente, não existe
isso de fror na ex-URSS.
OUTRO – se a URSS acabou então não é mais
“camarada”, né? É só Gorbatchov.
MAIS OUTRO – lá isso é.
A fila foi se desfazendo, deixou de ser
indiana para se tornar brasileira, formava uns bolos aqui e acolá, um bafafá
danado.
Uns viraram de costas, levantaram os
casacões, baixaram as calças, depois agitaram umas bandeirolas de algum país
ex-soviético, da Letônia, da Ucrânia, da Bielo-Rússia ou Rússia-Branca, do
Azerbaijão, da Estônia, de vários mesmo, eram mais de 15 repúblicas, 120 grupos
étnicos.
LETÃO – viva a Letônia.
MOLDAVO – viva a Moldávia.
Quanto mais agitavam as bandeiras, mais
fedia.
UM (apertando o nariz com o indicador e o
polegar) – que fedor é esse?
Ia se formando carnaval espontâneo, um
brasileiro do intercâmbio instalou a barraquinha de churrasquinho de gato,
outro colocou a pipoqueira, mais um a barraca do cachorro quente, um quarto
apareceu com o isopor de cerveja em lata, um americano oferecia ações, a coisa
ia esquentando.
OUTRO UM – e a KGB, acabou também?
PUTIN – não existe isso de ex-KGB.
Uma ex-camarada toda encasacada tirou o
capote e ficou de biquíni, o povo se aproximou para confraternizar, alguém
pegou para dançar e, se pudesse, apalpar, ela deu um tapa e se afastou para ser
fotografada.
O pessoal que já tinha comprado estatuetas de
Lênin jogou para cima, umas caíam na pedra e espatifavam, outras na neve, não
quebravam, o pessoal pegava de novo para jogar para cima, tudo era festa.
O pessoal do Pravda, desconfiado desses
repentes, pensando ser golpe do partido para fuzilar um punhado,
caritativamente procurava juntar o povo na fila de novo, mas ninguém dava bola.
O DIABO VESTIA PRAVDA – viva Stálin, viva
Lênin, vida Brejnev, vida longa a Kruschev, viva Gorbatchov.
Ninguém estava prestando atenção, a praça
pegava fogo, parecia carnaval da Bahia, um grupo de baianos revolucionários
pegou no reco-reco, no pandeiro, no triângulo, nos tambores e começou um samba
descolado. Tiravam foto do momento histórico.
Serra, domingo, 17 de janeiro de 2016.
GAVA.
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