quarta-feira, 5 de outubro de 2016


Benefícios & Custos Totais

 

No excelente livro de Joel Bakan, A Corporação (A busca patológica por lucro e poder), São Paulo, Novo Conceito, 2008 (sobre original de 2004), ele fala na página 72 e seguintes do caso de Patricia Anderson contra a General Motors depois do acidente em 1979 nos EUA, em que seu Chevrolet Malibu foi pego por trás por motorista bêbado, causando danos terríveis nela e em seus quatro filhos, além de um amigo presente no veículo, quando o tanque de combustível explodiu - compre o livro e leia.

Como resultado do julgamento, a corte local decretou pagamentos a ela de US$ 107 milhões e indenizações punitivas de US$ 4,8 bilhões, depois reduzidas a US$ 1,2 bilhões (os casos de lá não são tratados com leviandade, como na Justiça brasileira). A Câmara de Comércio, defendendo a GM, recorreu à Corte de Apelação da Califórnia, apresentando um monte de argumentos indecentes, referidos a avaliação do engenheiro sobre custos & benefícios da vida humana - precificada em favor dos acionistas –, que colocava cada óbito potencial valendo em média US$ 2,40.

Antes de tudo, devemos mudar de custos & benefícios para benefícios & custos (em primeiro lugar o que é mais importante, queremos pensar elementarmente em benefícios, pois quando compramos máquina de lavar não o fazemos para ter problemas, não estamos buscando-os, pelo contrário, queremos soluções, eficácia). Depois, pensar que a relação B/C deveria ser MUITO MAIOR que um, quer dizer, grandes benefícios para pequenos custos (o contrário acontecia com os primeiros PC, favoreciam as empresas com máquinas – até 10 vezes mais caras que hoje por 1/100 de potência - que logo, logo davam tilte; foi horrível, falta total de consideração, elas “davam pau”, grimpavam logo no primeiro ano). Representemos como B/C >> 1,0. Ao passo que B/C << 1,0 deveria ser castigado fortemente.

EM TERCEIRO LUGAR O CÁLCULO PRECISO DA B/C TOTAL (a empresa não existe no vácuo, há uma rede de relações)

DEPENDÊNCIAS AMBIENTAIS.
Vínculos com o mundo.
Vínculos com nações.
Vínculos com estados.
Vínculos com cidades-municípios.
DEPENDÊNCIAS PESSOAIS.
EMPRESAS: vínculos com outras empresas.
Vínculos com grupos.
Vínculos com famílias.
Vínculos com indivíduos.

Há costumes populares e leis das elites (por sinal, no Brasil, a monstruosa soma delas vai a caminho de 5,0 milhões desde a constituição de 1988) a obedecer.

Bakan diz na página 76: “A forma como a instituição da corporação é constituída, sua compulsão em servir aos próprios interesses financeiros acima de tudo, exige que os executivos tomem decisões que gerem apenas grandes benefícios para suas corporações e não custos”.

DE MODO NENHUM, os atuais cálculos de C/B isentam os executivos e profissionais apenas internamente, quer dizer, no âmbito do tempespaço da companhia. Os acionistas e diretores são responsáveis externamente, devem responder PESADAMENTE tanto pelos danos diretos a pessoas quanto pelos indiretos aos ambientes, por todo o futuro do ato.

PATRÍCIA ANDERSON QUEIMADA (dor e destruição para ela, os quatro filhos e o amigo, sem falar em família, grupo, comunidade)

http://lubbockonline.com/images/071099/gas-tanksLR.jpg

As empresas têm TOTAL responsabilidade, como cada um de nós, pelos danos causados a outrem por ação ou inação.

É jogo: as empresas, acionistas, diretorias, engenheiros, profissionais apostam: se perderem devem pagar (nessa questão, como em todas as outras, por exemplo, a destinação do lixo, os danos causados ao lençol freático e às águas correntes, ao ar, ao solo, a tudo mesmo).

Querem os benefícios do lucro desenfreado, paguem o custo do erro.

Vitória, quarta-feira, 5 de outubro de 2016.

GAVA.

Nenhum comentário:

Postar um comentário