sábado, 21 de julho de 2018


Em Criança Eu Cheirava Muito

 

Nasci em 1954, tinha sete anos (como dizem, a idade do conhecimento, das lembranças, das memórias preservadas; mas guardo fatos dos três anos) em 1961, há 57 anos. Naquele tempo MUITO MAIS estava preservado, por exemplo - o que só viria a saber quando fomos para lá -, em Linhares quase toda a floresta primitiva tinha sido conservada, depois quase tudo destruído (fora os mais de quatrocentos quilômetros quadrados das reservas da CVRD e de Sooretama, do Governo Federal, constituindo menos de 1 % do ES), não contando as manchas verdes aqui e acolá. De fato, 95 % da reserva natural da floresta Atlântica foram destruídos, restando de 1500 apenas 5 %, enorme eficácia em termos de aniquilamento.

Existiam muito mais abelhas e muito mais borboletas indicando a pujança natural e muito mais florestas e flores. A população em 1954 era de 3,0 bilhões, frente à destrutividade largamente mais ampla dos 7,6 bilhões de 2018; não são somente casas e apartamentos, é toda a economia (agropecuária-extrativismo, indústrias, comércio, serviços, bancos), estradas, prédios governamentais, tudo que é humano, e a contaminação da Bandeira Elementar (ar, água, terra/solo e fogo/energia), a gigantesca poluição que contamina os oceanos com plásticos.

Tenho o nariz apurado, fico satisfeito com isso.

Naqueles tempos não-arruinados cheirávamos muito mais, não apenas porque nossos narizes externinternos estavam menos destruídos e entupidos de recordações como principalmente porque havia mais cheiros (agradáveis) em toda parte; e não eram esses cheiros drogados de agora.

Uma quantidade imensa de coisas melhorou nesses 64 anos, porém uma classe vasta delas piorou: estamos mais sujeitos a pragas e pestes, o ar está envenenado, as águas sujas e peçonhentas, a terra/solo comprometida, as energias consumidas até o estupor: que sabíamos nós? Achávamos que o mundo só melhoraria, não víamos os 50 % de devastação.

Não sou daqueles que deixam para aproveitar no futuro, não sou como Ataulfo Alves, “que saudades da professorinha” e “eu era feliz e não sabia”: eu sabia em cada instante da minha vida, não deixei para depois, tinha plena consciência (embora não tão completa quanto agora, era criança, via o mundo como criança, como disse São Paulo).

Ah, quanta perda!

Quanta miséria hoje!

Os jovens, trancados em seus exílios urbanos, prisioneiros das cidades, não sabem mais, olham o passado como caduco, não veem o brilho, veem tudo esmaecido e preto & branco, não atinam com a riqueza daquela época.

Vitória, sábado, 21 de julho de 2018.

GAVA.

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