Em
Criança Eu Cheirava Muito
Nasci em 1954, tinha sete anos (como dizem, a
idade do conhecimento, das lembranças, das memórias preservadas; mas guardo
fatos dos três anos) em 1961, há 57 anos. Naquele tempo MUITO MAIS estava
preservado, por exemplo - o que só viria a saber quando fomos para lá -, em
Linhares quase toda a floresta primitiva tinha sido conservada, depois quase
tudo destruído (fora os mais de quatrocentos quilômetros quadrados das reservas
da CVRD e de Sooretama, do Governo Federal, constituindo menos de 1 % do ES), não
contando as manchas verdes aqui e acolá. De fato, 95 % da reserva natural da
floresta Atlântica foram destruídos, restando de 1500 apenas 5 %, enorme
eficácia em termos de aniquilamento.
Existiam muito mais abelhas e muito mais borboletas
indicando a pujança natural e muito mais florestas e flores. A população em
1954 era de 3,0 bilhões, frente à destrutividade largamente mais ampla dos 7,6
bilhões de 2018; não são somente casas e apartamentos, é toda a economia (agropecuária-extrativismo,
indústrias, comércio, serviços, bancos), estradas, prédios governamentais, tudo
que é humano, e a contaminação da Bandeira Elementar (ar, água, terra/solo e
fogo/energia), a gigantesca poluição que contamina os oceanos com plásticos.
Tenho o nariz apurado, fico satisfeito com
isso.
Naqueles tempos não-arruinados cheirávamos
muito mais, não apenas porque nossos narizes externinternos estavam menos
destruídos e entupidos de recordações como principalmente porque havia mais
cheiros (agradáveis) em toda parte; e não eram esses cheiros drogados de agora.
Uma quantidade imensa de coisas melhorou
nesses 64 anos, porém uma classe vasta delas piorou: estamos mais sujeitos a pragas
e pestes, o ar está envenenado, as águas sujas e peçonhentas, a terra/solo
comprometida, as energias consumidas até o estupor: que sabíamos nós? Achávamos
que o mundo só melhoraria, não víamos os 50 % de devastação.
Não sou daqueles que deixam para aproveitar
no futuro, não sou como Ataulfo Alves, “que saudades da professorinha” e “eu
era feliz e não sabia”: eu sabia em cada instante da minha vida, não deixei
para depois, tinha plena consciência (embora não tão completa quanto agora, era
criança, via o mundo como criança, como disse São Paulo).
Ah, quanta perda!
Quanta miséria hoje!
Os jovens, trancados em seus exílios urbanos,
prisioneiros das cidades, não sabem mais, olham o passado como caduco, não veem
o brilho, veem tudo esmaecido e preto & branco, não atinam com a riqueza
daquela época.
Vitória, sábado, 21 de julho de 2018.
GAVA.
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