quinta-feira, 2 de agosto de 2018


Inútil Afanássiev

 

Em seu livro Fundamentos da Filosofia, Moscou, Progresso, 1982 (sobre original de 1978) V. G. Afanássiev diz na página 26:

“Em resultado disso, a história da sociedade passou a ser interpretada não como aglomeração caótica de fenômenos, mas como um processo natural necessário e lógico de substituição de métodos inferiores de produção por métodos superiores; foi provado também que esta troca não é algo casual, mas se realiza na base de leis objetivas que não dependem da vontade e da consciência do homem”, negrito e itálico meus.

Daí eu ter colocado a inutilidade dele, pois se não depende “da vontade e da consciência de” Afanássiev, o que ele está fazendo filosofando? Só este livro tem 425 páginas de inutilidades, dado ele não poder interferir nos métodos superiores sociais com sua aglomeração caótica de fenômenos. E se não pode interferir é um idiota por estar tentando mesmo assim, além de mentiroso, porque passa o tempo todo querendo demonstrar o contrário do que acredita; e hipócrita ou fingido, pois prega uma coisa e pratica outra.

Em todo caso, Afanássiev é contraditório.

Mas o indivíduo deve contar, pois Lênin contou e Marx e Engels também, e antes Hegel, vários heróis do comunismo (que, aliás, respeito). E tantos outros. Se houvesse apenas um lado, a superfície da água no balde, o que a faria saltar e modificar-se, subir e transbordar das margens ou contenções anteriores? O que provocaria as revoluções se o coletivo fosse incontornavelmente dominante, sem a presença da palavra individual revolucionária? A única explicação é que ora predomina o indivíduo libertador e ora a coletividade castradora, ora a revolução e ora a conservação, alternando-se em ritmo impreciso, no sentido de que não sabemos precisar ainda.

Seria interessante saber da vida de V. G., já que há essa contradição notável de um indivíduo negando os indivíduos: se o indivíduo não existe e não pode interferir, o que ele está tentando fazer? A sociedade é justamente a média estatística da “aglomeração caótica de fenômenos”.

Vitória, terça-feira, 24 de abril de 2007.

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