O Joelho Ralado de
Gabriel
Gabriel foi jogar futebol e chegou todo
ralado, como deve ser, pois se trata do “rude esporte bretão”: ninguém pode
reclamar por algo menos que perder um dedo, digamos. Ele não reclama, toma
banho e prossegue. Mas passados dias foi beber com os amigos e lá se ofereceu
para empurrar um fusquinha difícil de pegar, calhando de cair e ralar de novo o
joelho justamente onde já tinha ficado em carne viva antes. Ficou revoltado por
ao ajudar receber como prêmio a dor, e dessa vez chorou de revolta, tendo 21
anos.
Por quê, quer saber ele, os que ajudam
sofrem?
A resposta geral, como já vimos, é que na
Curva do Sino 50/50 há metade que aproveita o corpomente e o passado, gastando
esplendorosamente o capital humano, e metade serve de sustentação ao futuro,
repondo tudo. Eu lhe disse que há os que dão remédio contra os vermes, como ele
deu a Silas, seu cachorro labrador Pink nose; se não fossem esses os vermes
corroeriam tudo por dentro.
O mesmo se dá com a humanidade: se os santos
e os sábios, os estadistas e os pesquisadores não se esforçarem os de baixo consumirão
todo o esforço apenas com prazer de si, prazer tão breve quanto durar o capital
moral acumulado nos séculos e nos milênios. Você sabe, quem mais acumula a
favor são os iluminados e ainda estamos vivendo do que proporcionaram eras
atrás.
OS QUE SÃO COMO LÂMPADAS (brilhando no escuro
fazem os outros enxergarem o futuro)
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A recompensa é ter feito, sabendo serem todos
devedores a esses poucos; não fosse por estes o projeto psicológico se
esgotaria.
Entrementes, há períodos em que tudo se move
perigosamente no sentido da morte, com tantos se negando a sair de si em prol
dos demais, como nesses tempos em que estamos vivendo, sendo os doadores
obrigados mais adiante a doar muito mais de si, como mártires da causa da
sobrevivência.
Essa é a resposta geral.
Para o joelho ralado de Gabriel e todos os
joelhos ralados do mundo.
Vitória, segunda-feira, 16 de julho de 2007.
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