A Dedicação de Mamãe

 

Quando eu estava – sem qualquer resultado - tentando ir adiante no curso de engenharia mamãe mandou fazer uma bolsa grande de índigo (blue, azul) com fechos e com duas alças, que usei até rasgar totalmente. Como havia um carro transportando combustível quase todo dia entre a base da Petrobrás em Tubarão, Camburi, Vitória, e o posto de gasolina em Linhares ela encomendava que Osvaldo levasse minha roupa suja e a trouxesse limpa depois de lavada e passada. Talvez custasse 40 ou 60 reais fazê-lo em Goiabeiras ou onde eu morasse, mas era assim. Por anos a fio foi assim.

E quando o chuveiro queimava (a serpentina era baratíssima, dois ou três reais, e meu pai era craque em fazer esses consertos, mas a energia era cara), ela esquentava água para colocar numa bacia. Essas coisas marcam a gente para sempre, sem falar em outras; mas não se trata aqui de louvar de público minha mãe, porque nossa ligação nos dizia respeito e não ao mundo.

Trata-se de falar das mães.

Como no artigo Antônia Olha para Trás neste Livro 173, aqui compete chamar a atenção dos sociólogos para essas “coisas miúdas”, pois devem existir milhões de notícias relevantes que dariam bons filmes louvando o gesto mínimo tão significativo.

ZILHÕES DE NOTÍCIAS (muitas delas agora perdidas para sempre: 33 x 33 = 1.089)

Essa finíssima tessitura está à espera dos verdadeiramente sensíveis, dos amorosos, dos que sabem olhar e ver. E tanto tempo Hollywood na Califórnia, EUA, e até mesmo Bollywood na Índia perdem imaginando complicadíssimos enredos, quando os seres humanos precisam ser lembrados da dignidade.

Vitória, segunda-feira, 17 de julho de 2006.