quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018


O Idiota do Oscar

 

Oscar era engenheiro de Juiz de Fora, Minas Gerais; fez concurso público para fiscal no Espírito Santo, passou e foi junto com nossa turma de 25 para Linhares, norte do estado. Lá trabalhávamos ele e eu e outros na “volante” a pé e de carro, fusquinha velho, fiscais circulando pela cidade.

O Oscar implicava comigo, ele me achava muito feio, com aquela delicadeza toda que tinha; uma vez pediu uma fotografia (dei uma 3 x 4 “para espantar mosquitos”, dizia; o Oscar era de uma crueldade refinada, como podem ser os humanos) para levar a Lavínia, sua esposa (que, para implicar em resposta eu chamava de “A Máquina de Lavar”).

Vivia reclamando que tinha deixado a esposa e os filhos em Juiz de Fora, queria estar mais perto; pedi a meu irmão mais velho, AJG, que era maçom, para agir lá junto dos “irmãos” e ele conseguiu a transferência do Oscar para Vitória. Ele nunca soube como aconteceu, achava que era “sorte”. “Puxa, que sorte, eu fui exatamente para onde queria ir”.

Tempos depois encontrei o Oscar na capital, porque eu tinha vindo para o Sindifiscal. O Oscar continuava insatisfeito, queria ir para a divisa com o Rio de Janeiro e Minas Gerais, onde ficaria mais próximo da família. Novamente pedi ao meu irmão, com o mesmo resultado, o Oscar tendo sido re-transferido para Bom Jesus do Norte ou algo assim. Também nunca soube disso: “puxa, a sorte de novo, vire e mexe ela vive me pegando”.

O Oscar nunca soube de muitas coisas.

O Oscar era um idiota.

Todos nós somos idiotas em alguma medida, porque não sabemos quem ou o quê está nos ajudando, as coincidências ou os anjos de Deus, como você queira acreditar.

A diferença toda é que alguns de nós, idiotas, mesmo sem saber ainda assim agradecemos. Sem falar que alguns de nós não implicamos com os outros nem nos sentimos superiores. Não é tão mais tranqüilo viver assim?

Vitória, sexta-feira, 28 de julho de 2006.

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