segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018


Céu, Utopia e Utópico

 

No livro citado A Fabricação da Ciência, São Paulo, UNESP, 1994 (sobre original francês de 1990), Alan Chalmers diz: “Para serem úteis, e não fúteis, as metas não podem ser utópicas. Devem ser tais que se possa constatar um avanço em sua realização. E há mais: saber se a meta é ou não utópica é algo que só se aprende na prática”.

Com isso, de pronto, ele eliminaria quase tudo de grandioso que a humanidade conseguiu. Colocar utopias, pelo contrário, é fundamental: se não chegar ao extremo pelo menos com o que se conseguiu já se terá feito mais do que se tivéssemos mirado somente o medíocre, o alcançável segundo os julgamentos simples. É assim que os iluminados agem: colocam metas super-humanas jamais atingíveis. O que sobra é a humanidade muito além do que ela teria conseguido sozinha.

UTÓPICO

[De utopia + -ico2.] Adj. 1. Relativo a utopia. 2. Que encerra utopia; irrealizável, quimérico.

UTOPIA

[Do lat. mod. utopia < gr. o oÏ, 'não', + gr. tópos, 'lugar', + gr. -ía, (v. -ia1).]
S. f. 1. País imaginário, criação de Thomas Morus (1480-1535), escritor inglês, onde um governo, organizado da melhor maneira, proporciona ótimas condições de vida a um povo equilibrado e feliz. 2. P. ext.  Descrição ou representação de qualquer lugar ou situação ideais onde vigorem normas e/ou instituições políticas altamente aperfeiçoadas. 3. P. ext.  Projeto irrealizável; quimera; fantasia.

CÉU

[Do lat. caelu.] S. m. 1. Espaço ilimitado e indefinido onde se movem os astros. 2. O espaço acima de nossas cabeças, limitado pelo horizonte; firmamento. 3. V. atmosfera (3). 4. A parte superior de uma armação; dossel, sobrecéu. 5. Região para onde, segundo as crenças religiosas, vão as almas dos justos. 6. Qualquer lugar onde se possa ser feliz; paraíso. 7. Fig.  A Providência; Deus.

Ademais, olhemos usando a Rede Cognata:

Eva
Adão
Cristo
CÉU
UTOPIA
UTÓPICO
C = ORÁCULO
COMUM
COSTELA
CÍRCULO
ETERNO
ELEMENTO
ÚTERO
CORPO
GOSTO

Parece que há um alinhamento dos três elementos.

Se acabar com o utópico acaba com metade do gosto da vida, porque só sobra o pessoal sisudo, muito controlado, que nunca vibra com nada; resta o pessoal mecânico, repetitivo, da paixão burocrática, do descomedimento metrificado. Acaba o Céu e finda a utopia. Ser utópico não quer dizer ser exagerado e destrambelhado, pois a utopia é sinceridade, crença autêntica, não é invencionice.

Vitória, domingo, 23 de julho de 2006.

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