A
Derrota do Maduro
Quando você tem 20 ou 25 anos o mundo é só
liberdade: pai e mãe garantiram até ali e se você aproveitou as chances de
educação universitária para ser alçado acima dos demais logo à partida (não
aproveitei o grande sacrifício deles, porque algo precisava ser feito e não por
aquela linha), começa com uma v0 (velocidade inicial, como dizem
meus amigos) maior que a dos outros.
De qualquer modo, vem os 25, os 30, os 35,
você ainda é super-herói voando no céu, esteja casado ou não, tudo parece
relativamente sorrir, as dores são quase ausentes, fora alguma gripe
inoportuna, os colegas ainda estão sendo amistosos no serviço, porque não
bateram neles as ondas da ressaca do mal proceloso, as nuvens negras das
dificuldades ainda não apareceram por cima, os filhos são pequenos, não estão
criados, não chegaram os problemas dobrados.
Aos 50 chegam as dores.
Antes do MP
Modelo Pirâmide essa era afirmação que alguém defenderia contra todos os
outros, menos os co-afirmadores. Depois, claro e felizmente, vimos que é 50/50,
devem existir por aí 50 % poupados do sofrimento intenso.
A RC Rede Cognata diz que dor = LIBERDADE =
LEI = VIDA = DIRETA = EQUILÍBRIO e assim por diante. Dá-lhe equilíbrio, é
verdade. Em todo caso, ensina, e você vai ficando mais e mais contraído, uma
lição a cada pontada. Alguns sentem dores o tempo todo, todos os dias.
Perguntei a M, colega de trabalho que faleceu em dezembro/15: você não sente dores
(pois bebia e fumava muito)? E ele: claro, o tempo todo, só não falo.
Ninguém fala.
Falo aqui por motivação de artigo, chegar a
uma compreensão mais profunda da penosa - 50/50 - existência humana: não tema,
o outro lado está pagando de outro modo.
Ia pela rua e falava ao meu filho, apontando
os de 50 ou mais: está vendo, aquele lá está todo dolorido (50/50).
A pessoa vai derruindo, abatendo-se (vem de
dentro), vai encurvando, vai calando, vai introjetando e não fala, porque
falaria a quem? Todos estão na mesma situação (se não têm dores corporais,
estão incomodados de qualquer outro modo, por exemplo, mental).
Vai encurvando igual a ponto de interrogação.
As mulheres, evidentemente, mais, porque o
programa de dobramento delas é mais horrível, a carga é muito pior.
Em todo caso, em cada caso, ninguém fala.
“Tudo bem? ”
“Tudo bem”.
“E as crianças? ” (Já adultas).
“Vão bem, e as suas? ”
E assim por diante.
Quando chega aos 60 piora.
Quando tinha 20 anos me perguntava: “o que há
com essa gente? ”
Agora, aos 62, eu sei.
Vitória, sexta-feira, 8 de julho de 2016.
GAVA.
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