Livramento
e Ação de Graça
Não houve ninguém
para me ilustrar, dar lustre (na realidade, elucidar), civilizar, tive de aprender
por conta própria, lendo e observando, absorvendo. Fui escolhendo em cada
bifurcação conforme andava. Só muito adiante fui identificar o orgulho (beleza,
fama, poder, riqueza) ou vaidade como fonte dos males.
Há agora bilhões de
ofertas, parte delas nos meios de transporte (carros, motos, barcos, aviões,
helicópteros) e todo meio de iludir: você chega a um deles, um meio, logo perde
o interesse, indo em busca do maior, do mais brilhante, do mais aparatoso, do
maior destaque social. E há objetos, esses de fato bilhões, que nem em um
milhão de vidas seria possível comprar tantos. Motocicletas espantosas em
potência, ruído, velocidade, resistência, beleza, impacto, aceleração, é mesmo
de cair o queixo; até a próxima, ainda mais alumbrante, mais portentosa, mais
graciosa, mais tudo. O ritmo de ofertas de motos só faz aumentar, no Brasil e
em toda parte, desde as “cinquentinhas”, com 50 cc, até as monstruosas, tão potentes
quanto carros ou mais.
Seria interessante
alguém fazer livro (de Web, livro de papel não comportaria) de todas as ofertas
que o mundo faz. Casas, roupas, joias, bijuterias, creio não haver na Terra
qualquer uma pessoa capaz de apontar sequer um milésimo de um porcento de tudo
que é oferecido.
Felizmente, conforme
andava, deixei de lado todas essas coisas, atendo-me aos livros e, desde 1995
no Brasil, à Internet para as buscas rápidas (agora contaminadas pela fake-news),
graças a Deus tomei as decisões certas.
Fiquei livre de tantas
coisas!
Agora vejo como foi
bom não ter quase nada, exceto essas coisas fantásticas que são os livros, os
discos, os filmes.
Assim, desassistido
dessas imensidões do mundo contemporâneo e pós-contemporâneo, pude concentrar
meus recursos em algo relevante e prestar com eles ação de graça, ação gratuita.
Foi bom, foi maravilhoso, foi no susto, ninguém me preveniu (fora algum toque
de Deus aqui e acolá), ninguém ajudou nisso, foi por acaso, poderia ter
tropeçado e caído no barranco à esquerda ou à direita.
Muito agradecido.
Vitória, quarta-feira,
26 de setembro de 2018.
GAVA.
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