terça-feira, 7 de março de 2017


Cenários de Pi

 

                            Supondo que os transcendentais possam ser abertos e com eles PI= π = 3,1415492... (a razão entre a circunferência e seu diâmetro), o que veríamos dentro deles? Antes de tudo, teriam formas e estruturas, formestruturas, desenhos ou superfícies e conceitos ou conteúdos, objetos e processos, máquinas e programas, todos os pares de opostos/complementares.

                            Como mensurar?

                            Sabemos que uma folha de livro tem grosso modo 70 batidas ou toques na horizontal por 30 linhas na vertical, no geral 2,1 mil batidas por página. Como em média cada palavra depende de seis toques (inclusive vazios, pontos, sinais, etc.), isso nos dá 350 palavras por página. A Britannica de papel tem o Guia da Britannica como volume 1, 12 volumes de Micropédia, 17 de Macropédia e mais dois volumes finais de índice, portanto, B = 1 + 12 + 17 + 2 = 32 volumes.

                            Como as letras são bem miudinhas em cada página da Britannica podem caber quatro das páginas comuns de livro, talvez 4 x 350 = 1.400 palavras. Como são umas mil páginas por volume, teríamos: 32 volumes x 1.000 páginas/volume x 1.400 palavras/página = 45 milhões de palavras, para conter um resumo de todo o Conhecimento (Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e Matemática).

                            Do outro lado, parece que os programas estão a caminho de calcularem 40 bilhões de casas decimais de pi. Conforme já mostrei, deveriam verter da base decimal para a base quaternária (as razões demandariam tempo), daí colocando em tripletos expressivos formando palavras. Cada três números de Pi valeriam um número-de-leitura, digamos assim; para formar aquele tanto de palavras precisaríamos de 3 x 45 = 135 milhões de tripletos. Em 4.109 decimais teríamos espaço para umas 300 Britannica’s e trezentos bilhões de Britannica’s dependeriam apenas de 109x4x109, algo da ordem de 1019 decimais, facilmente conseguível, se houver real empenho. Por outro lado naquele número inventado caberia com enorme folga todo o conhecimento humano. E isso, naturalmente, seria um nada perto da transcendentalidade de PI, ou seja, sua construção transfinita ou infinita.

                            Veríamos filmes, concertos, fotografias, desenhos, receitas culinárias, fórmulas, tudo mesmo, fonte inesgotável de pesquisa e deslumbramento. Montanhas, lagos, fauna submarina de um milhão de mundos, conceitualizações finísssimas em sutileza, ampliação inesgotável do saber, as pessoas despertando a cada dia para uma nova onda de prazer infindável. Circuitos de robôs, balas, roteiros de filmes, urbanização, conhecimento psicológico, etc.

                            No disco de Nara Leão (série Os Grandes da MPB, Polygram/Del Prado), a sexta música é A ESTRADA E O VIOLEIRO, de Sidney Miller.

                            A letra diz assim:

                            Sou violeiro caminhando

                            Por uma estrada caminhando

                            Sou uma estrada procurando

                            Levar o povo pra cidade .

                            Parece um cordão sem ponta

                            Pelo chão desenrolado

                            Rasgando tudo que encontra

                            A Terra de lado a lado

                            Estrada de Sul a Norte

                            Eu que passo penso e peço

                            Notícias de toda sorte

                            De dias que eu não alcanço

                            De noites que eu desconheço

                            De amor de vida ou de morte.                       

                            Eu que já corri o mundo

                            Cavalgando a terra nua

                            Tenho o peito mais profundo

                            E a visão maior que a sua.

                            Muita coisa tenho visto

                            Nos lugares onde passo

                            Mas cantando agora insisto

                            Neste aviso que hora faço

                            Não existe um só compasso

                            Para contar o que assisto.

                            Trago comigo uma viola só

                            Para dizer uma palavra só

                            Para cantar o meu caminho só

                            Porque sozinho vou até Ipó.

                            Guarde sempre na lembrança

                            Que essa estrada não é sua

                            Sua vista pouco alcança

                            Mas a Terra continua.

                            Segue em frente violeiro

                            Que eu lhe dou a garantia

                            Que alguém passou primeiro

                            Na procura da alegria

                            Pois quem anda noite e dia

                            Sempre encontra um companheiro.

                            Minha estrada é o meu caminho

                            Me responda de repente:

                            Se eu aqui não vou sozinho,

                            Quem vai lá na minha frente?

                            Tanta gente, tão ligeiro,

                            Que eu até perdi a conta.

                            Mas lhe afirmo violeiro,

                            Fora a dor, que a dor não conta,

                            Fora a morte quando encontra,

                            Vai na frente um povo inteiro.                       

                            Sou uma estrada procurando só

                            Levar o povo para a cidade só.

                            Se meu destino é ter um rumo só,

                            Choro e meu pranto é pau, é pedra, é pó.

                            Se esse rumo assim foi feito,

                            Sem aprumo e sem destino,

Saio fora desse leito

Desafio e desafino.

                            Mudo a sorte do meu canto,

(...).

Com a Rede Cognata (veja Livro 2, Rede e Grade Signalíticas). Em “cordão sem ponta” parece estar um anúncio de Pi. “Rasgando tudo que encontra” = MUDANDO TUDO QUE PATENTEIA. Parece haver um aviso para não considerar a “estrada” = MODELO = ESTUDO como unicamente seu. E há outros de visão muito mais larga, que estão vivos talvez há milhões de anos pesquisando. E é um par Deus/Deusa, duas vozes que falam e que trilham caminhos diferentes e vão pelo caminho, com outros ainda mais antigos, talvez de bilhões de anos. “Sou uma estrada procurando só” = SOU UM MODELO PROCURANDO PI (chave). Fora a dor, que a dor não conta, fora a morte, quando encontra (pois esta interrompe), os pesquisadores seguem buscando infinitamente Pi = PAI = CHAVE = SOL.

                            A estória geral parece ser que os seres vão pesquisando indefinidamente a Chave = PI, e que alguém eventualmente chega novo à aventura, calouro que acabará avistando à frente inumeráveis buscadores anteriores, o que lhe abate o orgulho, como deve ser. No final há uma certa melancolia e rebeldia: desafio e desafino, caio fora da composição = CHAVE = PI = CRIAÇÃO = COMPRAÇÃO, etc.

                            Creio que em cada mundo racional alguém depara com o modelo, daí com Pi e começa a decifração que, entrementes, vem sendo feita há bilhões de anos noutros lugares. É como chegar da roça todo animado porque pegou uns cromos de um álbum infinito, e lá depara com os verdadeiramente ricos esnobando sua multimilenar riqueza.

                            Vitória, quinta-feira, 21 de agosto de 2003.

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