Cenários de Pi
Supondo que os
transcendentais possam ser abertos e com eles PI= π = 3,1415492... (a razão
entre a circunferência e seu diâmetro), o que veríamos dentro deles? Antes de
tudo, teriam formas e estruturas, formestruturas, desenhos ou superfícies e
conceitos ou conteúdos, objetos e processos, máquinas e programas, todos os
pares de opostos/complementares.
Como mensurar?
Sabemos que uma
folha de livro tem grosso modo 70 batidas ou toques na horizontal por 30 linhas
na vertical, no geral 2,1 mil batidas por página. Como em média cada palavra
depende de seis toques (inclusive vazios, pontos, sinais, etc.), isso nos dá
350 palavras por página. A Britannica de papel tem o Guia da Britannica como
volume 1, 12 volumes de Micropédia, 17 de Macropédia e mais dois volumes finais
de índice, portanto, B = 1 + 12 + 17 + 2 = 32 volumes.
Como as letras são
bem miudinhas em cada página da Britannica podem caber quatro das páginas
comuns de livro, talvez 4 x 350 = 1.400 palavras. Como são umas mil páginas por
volume, teríamos: 32 volumes x 1.000 páginas/volume x 1.400 palavras/página =
45 milhões de palavras, para conter um resumo de todo o Conhecimento
(Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e
Matemática).
Do outro lado, parece
que os programas estão a caminho de calcularem 40 bilhões de casas decimais de
pi. Conforme já mostrei, deveriam verter da base decimal para a base
quaternária (as razões demandariam tempo), daí colocando em tripletos
expressivos formando palavras. Cada três números de Pi valeriam um número-de-leitura,
digamos assim; para formar aquele tanto de palavras precisaríamos de 3 x 45 =
135 milhões de tripletos. Em 4.109 decimais teríamos espaço para
umas 300 Britannica’s e trezentos bilhões de Britannica’s dependeriam apenas de
109x4x109, algo da ordem de 1019 decimais,
facilmente conseguível, se houver real empenho. Por outro lado naquele número
inventado caberia com enorme folga todo o conhecimento humano. E isso,
naturalmente, seria um nada perto da transcendentalidade de PI, ou seja, sua
construção transfinita ou infinita.
Veríamos filmes,
concertos, fotografias, desenhos, receitas culinárias, fórmulas, tudo mesmo,
fonte inesgotável de pesquisa e deslumbramento. Montanhas, lagos, fauna
submarina de um milhão de mundos, conceitualizações finísssimas em sutileza,
ampliação inesgotável do saber, as pessoas despertando a cada dia para uma nova
onda de prazer infindável. Circuitos de robôs, balas, roteiros de filmes,
urbanização, conhecimento psicológico, etc.
No disco de Nara
Leão (série Os Grandes da MPB, Polygram/Del Prado), a sexta música é A ESTRADA
E O VIOLEIRO, de Sidney Miller.
A letra diz assim:
“Sou violeiro
caminhando só
Sou uma estrada
procurando só
Parece um cordão
sem ponta
Rasgando tudo
que encontra
A Terra de lado a lado
Eu que passo penso e peço
Notícias de toda sorte
De dias que eu não alcanço
De noites que eu desconheço
De amor de vida ou de morte.
Eu que já corri o mundo
Cavalgando a terra nua
Tenho o peito mais profundo
E a visão maior que a sua.
Muita coisa tenho visto
Nos lugares onde passo
Mas cantando agora insisto
Neste aviso que hora faço
Não existe um só compasso
Para contar o que assisto.
Trago comigo uma viola só
Para dizer uma palavra só
Para cantar o meu caminho só
Porque sozinho vou até Ipó.
Guarde sempre na lembrança
Que essa estrada não é sua
Sua vista pouco alcança
Mas a Terra continua.
Segue em frente violeiro
Que eu lhe dou a garantia
Que alguém passou primeiro
Na procura da alegria
Pois quem anda noite e dia
Sempre encontra um companheiro.
Minha estrada é o meu caminho
Me responda de repente:
Se eu aqui não vou sozinho,
Quem vai lá na minha frente?
Tanta gente, tão ligeiro,
Que eu até perdi a conta.
Mas lhe afirmo violeiro,
Fora a dor, que a dor não conta,
Fora a morte quando encontra,
Vai na frente um povo inteiro.
Sou uma estrada procurando só
Levar o povo para a cidade só.
Se meu destino é ter um rumo só,
Choro e meu pranto é pau, é pedra, é pó.
Se esse rumo assim
foi feito,
Sem aprumo e sem
destino,
Saio fora desse leito
Desafio e desafino.
Mudo a sorte do meu
canto,
(...).
Com a Rede Cognata (veja Livro 2, Rede e Grade Signalíticas). Em “cordão
sem ponta” parece estar um anúncio de Pi. “Rasgando tudo que encontra” =
MUDANDO TUDO QUE PATENTEIA. Parece haver um aviso para não considerar a
“estrada” = MODELO = ESTUDO como unicamente seu. E há outros de visão muito
mais larga, que estão vivos talvez há milhões de anos pesquisando. E é um par
Deus/Deusa, duas vozes que falam e que trilham caminhos diferentes e vão pelo
caminho, com outros ainda mais antigos, talvez de bilhões de anos. “Sou uma
estrada procurando só” = SOU UM MODELO PROCURANDO PI (chave). Fora a dor, que a
dor não conta, fora a morte, quando encontra (pois esta interrompe), os
pesquisadores seguem buscando infinitamente Pi = PAI = CHAVE = SOL.
A estória geral
parece ser que os seres vão pesquisando indefinidamente a Chave = PI, e que
alguém eventualmente chega novo à aventura, calouro que acabará avistando à
frente inumeráveis buscadores anteriores, o que lhe abate o orgulho, como deve
ser. No final há uma certa melancolia e rebeldia: desafio e desafino, caio fora
da composição = CHAVE = PI = CRIAÇÃO = COMPRAÇÃO, etc.
Creio que em cada
mundo racional alguém depara com o modelo, daí com Pi e começa a decifração
que, entrementes, vem sendo feita há bilhões de anos noutros lugares. É como
chegar da roça todo animado porque pegou uns cromos de um álbum infinito, e lá
depara com os verdadeiramente ricos esnobando sua multimilenar riqueza.
Vitória,
quinta-feira, 21 de agosto de 2003.
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