Algazarra
No Houaiss eletrônico ou digital algazarra
é “1. Grita ou alarido dos mouros quando iniciavam um combate. 2. vozearia,
barulheira, tagarelada”.
Depois da operação
dita de ponte de safena (foram outras veias) veio-me uma súbita alegria, mas não
inexplicável, porque é a vazão de anos de tensão (dado que tive um aviso aos 15
anos de que “depois dos 44 anos” eu teria aterosclerose). Acontece que a dialética
nos diz que tal acúmulo irá fatalmente rebentar as defesas nalgum ponto da
geo-história individual, nem que seja em virtual, no que chamei de “herança do
virtual”.
Quero fazer
algazarras, alaridos vitais, bagunças, festejos, donde venha vibração guardada
por duas décadas, talvez, ou pelo menos desde 1991, quando saímos de Conceição
da Barra. E você terá também seus motivos. Agora, saiba que o modelo nos diz
que tudo é 50/50, tudo é pago: foi, está sendo, será pago em tristezas. Então,
quando vem a alegria, é de rir mesmo à farta. Não se acanhe, você já pagou,
está pagando ou pagará, daí ser inequivocamente seu. Ninguém pode lhe tomar,
nem viver essa alegria por você. Você, e unicamente você, é dono dela, assim
como é só seu o livre-arbítrio doado por Deus – é patrimônio unicamente da sua
existência, ninguém pode tomar-lhe a liberdade, subtrair-lhe dignidade. Só se
você espontaneamente ceder. Nem o demônio, do alto de sua potência sobre-humana
pode tirar-lhe esse patrimônio, que é garantido por Deus.
No momento de
festejar, festeje sem peias, mas também sem ultrapassar o quintal do próximo,
porque senão você estaria tirando a liberdade dele, e, como disse Jesus, não
queremos fazer com os demais o que não desejamos para nós.
Vou à algazarra com
alma-passarinha, voando alegremente.
Vitória,
sexta-feira, 17 de outubro de 2003.
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