sábado, 25 de março de 2017


Algazarra

 

                            No Houaiss eletrônico ou digital algazarra é “1. Grita ou alarido dos mouros quando iniciavam um combate. 2. vozearia, barulheira, tagarelada”.

                            Depois da operação dita de ponte de safena (foram outras veias) veio-me uma súbita alegria, mas não inexplicável, porque é a vazão de anos de tensão (dado que tive um aviso aos 15 anos de que “depois dos 44 anos” eu teria aterosclerose). Acontece que a dialética nos diz que tal acúmulo irá fatalmente rebentar as defesas nalgum ponto da geo-história individual, nem que seja em virtual, no que chamei de “herança do virtual”.

                            Quero fazer algazarras, alaridos vitais, bagunças, festejos, donde venha vibração guardada por duas décadas, talvez, ou pelo menos desde 1991, quando saímos de Conceição da Barra. E você terá também seus motivos. Agora, saiba que o modelo nos diz que tudo é 50/50, tudo é pago: foi, está sendo, será pago em tristezas. Então, quando vem a alegria, é de rir mesmo à farta. Não se acanhe, você já pagou, está pagando ou pagará, daí ser inequivocamente seu. Ninguém pode lhe tomar, nem viver essa alegria por você. Você, e unicamente você, é dono dela, assim como é só seu o livre-arbítrio doado por Deus – é patrimônio unicamente da sua existência, ninguém pode tomar-lhe a liberdade, subtrair-lhe dignidade. Só se você espontaneamente ceder. Nem o demônio, do alto de sua potência sobre-humana pode tirar-lhe esse patrimônio, que é garantido por Deus.

                            No momento de festejar, festeje sem peias, mas também sem ultrapassar o quintal do próximo, porque senão você estaria tirando a liberdade dele, e, como disse Jesus, não queremos fazer com os demais o que não desejamos para nós.

                            Vou à algazarra com alma-passarinha, voando alegremente.

                            Vitória, sexta-feira, 17 de outubro de 2003.

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