segunda-feira, 26 de dezembro de 2016


Sortudos

 

                           Sempre me lembro da história oriental, chinesa, de um homem e seu filho que tinham uma pequena propriedade e um único cavalo. Encontraram outro largado e a vizinhança veio cumprimentar, o pequeno fazendeiro dizendo que não, não era assim. Aconteceu que, por terem agora dois cavalos, o filho saiu a cavalgar e quebrou a perna. A vizinhança, pesarosa, veio dar os pêsames, o sitiante desconversando. Vieram representantes do governo convocar os jovens para a guerra, mas como o rapaz estava incapacitado, não o levaram, e chegou novamente a turma das redondezas para dar os parabéns, etc.

                            Enfim, diz o TAO, o que é não parece e o que parece não é.

                            Portugueses e espanhóis descobriram os metais preciosos das Américas e o novo caminho para as especiarias da índia. Com isso ficaram riquíssimos, enquanto ingleses, holandeses, belgas, franceses, alemães, italianos quase nada pegaram do mundo, na nova partilha. Alguns se tornaram piratas, mas todos investiram na educação nacional, na produção, na pesquisa & desenvolvimento, teórica & prático respectivamente, e galgaram patamares superiores de produção, ao passo que Portugal e Espanha, em virtude de sua riqueza gratuita, deixaram-se ficar deitados em berço esplêndido, com isso atrasando-se, a ponto de ao serem introduzidos na União Européia terem se tornado os países mais pobres da Europa.

                            Do mesmo modo os árabes com o petróleo e o gás, veja artigo Horizonte de 2040, Livro 1. Quando os recursos tiverem sido extraídos e vendidos, o que sobrará senão miséria para seus povos pelos próximos 300 anos? Eles não estão investindo na educação popular, na criação de fábricas e de indústrias de base, só em coisas supérfluas, como em um hotel de (acredito que você ficará pasmado) US$ CINCO BILHÕES. Esplendoroso, é lógico, mas supérfluo. Se cada escola unidocente custar dez mil dólares e a manutenção do professor pelos oito anos do curso fundamental mais três do segundo grau (a 200 dólares x 12 meses/ano x 11 anos) US$ 26,4 mil, 1,37 bilhão poderiam construir 137 mil salas de aula e o restante pagar outro tanto de professores por 11 anos, educando mais de quatro milhões de crianças (30 por sala). Preferiram a fama transitória para si à glória duradoura do amor ao próximo.

                            Haverão de pagar por isso, no futuro, é claro.

                            Que adiantou aos árabes terem sorte?

                            Creio que a maior e mais permanente sorte é o trabalho dedicado e cuidadoso. O que aconteceu com os ganhadores de loterias? Quantos deles prosperaram efetivamente, tendo aquele empurrão da sorte? Não existe levantamento, muito menos confiável, mas posso afirmar que deverão ser poucos. A pessoa cai na auto-indulgência, no consumo irrestrito, na acomodação, da qual nenhum aprendizado sai, ao passo que o trabalho duro traz contenção e riqueza verdadeira. Como não poderia deixar de ser no TAO, na dialética e no modelo, a sorte não passa de azar, e vice-versa. Sortudo no fundo é quem trabalha com vigor e persistência, sem esmorecer. O trabalho é o verdadeiro selecionador de aptidão para a sobre-vivência.

                            Vitória, segunda-feira, 26 de agosto de 2002.

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