Radiação de Fundo
Quando
as estrelas emitem, para onde vai a radiação que não toca os objetos da
circunvizinhança estelar? Naturalmente a proporção da que incide em algum
objeto versus a que passa direito é descomunal em favor desta. É só ver na
fórmula que dá a superfície da esfera (4πR2/3) com uma UA (unidade
astronômica) = 150 milhões de quilômetros, distância do Sol à Terra, contra o
círculo que tem o raio da Terra, 6.372 km (πr2), portanto (R/r)2
x 4/3, proporção de 70 milhões para um.
Já
li em algum lugar que o Sol emite o equivalente em massa a cinco milhões de
toneladas por segundo (os livros de Halliday & Resnick dão o valor de 3,90
x 1026 w, watt, joule/s, faça as contas), num ano 365 x 24 x 3.600 x
5 x 106 ton = aproximadamente 1014 ton, de que a parte
destinada à Terra é de 0,07 ton por segundo (em dados reais, sem necessidade de
apelar para a memória endolocalizada, 5,57 x 1018 J/s, portanto, num
segundo).
Só
de passagem, apesar de ser aparentemente pouco, devemos dizer que, dos 100 %
que chegam à Terra, 60 % são refletidos pela atmosfera, a vegetação terrestre
pega 3 %, a vegetação marinha 0,16 %, a evaporação 16 %, 11,6 % são refletidos
por outros meios e outro tanto é absorvido pelo solo, segundo a Enciclopédia e
Dicionário Koogan/Houaiss, p.310. Uma insignificância serve para nos manter,
creio que uma em dez mil partes.
Pois
bem, de cada 70 milhões a Terra aproveita uma parte, o resto é perdido. E a
soma dos objetos do SS não vai ser quase nada diferente disso, de forma que
erro para lá, erro para cá, podemos mesmo ficar com isso de 70 milhões para um.
Veja,
o mesmo acontecerá em toda parte, porque o Sol é uma estrela média, comum,
vulgar, comparada com outras (mas é a fonte de nossa existência imediata,
enquanto gerador de energia). Agora, são, digamos, de um a 100 bilhões de
galáxias, cada uma com em média 400 bilhões de estrelas, 1020 a 1022
estrelas. Toda essa imensidão de radiação é espalhada a cada segundo e à
velocidade da luz.
Como
imaginei, isso constitui a radiação de fundo, que está espalhada em toda parte.
Ela não é exatamente a mesma em todo lugar, não é como um espelho. A superfície
dos oceanos também ondula ligeiramente, não é um espelho. O espelho mesmo
contém buracos.
No
entanto, a analogia não pode ir muito longe, porque se nos oceanos um objeto fica
rodeado de água, que nele não entra, a radiação de fundo penetraria em tudo,
ficaria em princípio bem no interior mesmo de todos os objetos, permeando-os
inteiramente. Como a velocidade da luz é grande e as estrelas estão bem
distribuídas, não vai haver muita diferença entre as alturas dentro das
galáxias e no meio intergalático. Não muita, mas haverá. E, como eu disse, a
radiação de fundo não está no passado, ao contrário dos objetos luminosos que
vemos. Se você olha para Andrômeda, ela se encontra a dois milhões de anos-luz,
quer dizer, a vemos como era há dois milhões de anos – ela hoje está em outra
posição, conforme seu vetor de deslocamento. Contudo, a RF está sendo emitida
por todos os objetos, até planetas “frios”, de modo que TODOS, mas todos mesmo,
a emitem, porque TUDO é mais quente que ela, referencial de todas as coisas,
3ºK. Assim, todos os objetos do universo estão emitindo para o ambiente RF.
Emitem para fora, para dentro, para todas as direções e sentidos.
O
resultado é que a RF está em toda parte. Evidentemente, onde uma coisa é mais
quente que 3º K, é aquela temperatura que prevalece. Por comparação com o nível
do “mar” RF, a superfície da Terra, a 27º C (só para facilitar a soma) ou 300º
K é uma montanha altíssima, e o Sol mais ainda. Evidentemente tudo a três
dimensões e não a duas, como vemos o mar.
Se
víssemos a RF em duas dimensões, ela seria a lâmina d’água do mar, elevando-se
nas galáxias os continentes de calor com algumas montanhas altíssimas, que só
poderíamos ver se usássemos escalas logarítmicas. Enfim, o universo não está
mesmo a 0º K, há um fundo a 3º K. Esse é o depósito do lixo entrópico que
serviu à construção deste universo. Em outros, maiores ou menores, existindo há
mais ou menos tempo, a RF terá outros valores.
Vitória,
terça-feira, 20 de agosto de 2002.
Nenhum comentário:
Postar um comentário