Sortudos
Sempre
me lembro da história oriental, chinesa, de um homem e seu filho que tinham uma
pequena propriedade e um único cavalo. Encontraram outro largado e a vizinhança
veio cumprimentar, o pequeno fazendeiro dizendo que não, não era assim. Aconteceu
que, por terem agora dois cavalos, o filho saiu a cavalgar e quebrou a perna. A
vizinhança, pesarosa, veio dar os pêsames, o sitiante desconversando. Vieram
representantes do governo convocar os jovens para a guerra, mas como o rapaz
estava incapacitado, não o levaram, e chegou novamente a turma das redondezas para
dar os parabéns, etc.
Enfim,
diz o TAO, o que é não parece e o que parece não é.
Portugueses
e espanhóis descobriram os metais preciosos das Américas e o novo caminho para
as especiarias da índia. Com isso ficaram riquíssimos, enquanto ingleses,
holandeses, belgas, franceses, alemães, italianos quase nada pegaram do mundo,
na nova partilha. Alguns se tornaram piratas, mas todos investiram na educação
nacional, na produção, na pesquisa & desenvolvimento, teórica & prático
respectivamente, e galgaram patamares superiores de produção, ao passo que
Portugal e Espanha, em virtude de sua riqueza gratuita, deixaram-se ficar
deitados em berço esplêndido, com isso atrasando-se, a ponto de ao serem introduzidos
na União Européia terem se tornado os países mais pobres da Europa.
Do
mesmo modo os árabes com o petróleo e o gás, veja artigo Horizonte de 2040,
Livro 1. Quando os recursos tiverem sido extraídos e vendidos, o que sobrará
senão miséria para seus povos pelos próximos 300 anos? Eles não estão
investindo na educação popular, na criação de fábricas e de indústrias de base,
só em coisas supérfluas, como em um hotel de (acredito que você ficará pasmado)
US$ CINCO BILHÕES. Esplendoroso, é lógico, mas supérfluo. Se cada escola
unidocente custar dez mil dólares e a manutenção do professor pelos oito anos
do curso fundamental mais três do segundo grau (a 200 dólares x 12 meses/ano x
11 anos) US$ 26,4 mil, 1,37 bilhão poderiam construir 137 mil salas de aula e o
restante pagar outro tanto de professores por 11 anos, educando mais de quatro
milhões de crianças (30 por sala). Preferiram a fama transitória para si à
glória duradoura do amor ao próximo.
Haverão
de pagar por isso, no futuro, é claro.
Que
adiantou aos árabes terem sorte?
Creio
que a maior e mais permanente sorte é o trabalho dedicado e cuidadoso. O que
aconteceu com os ganhadores de loterias? Quantos deles prosperaram
efetivamente, tendo aquele empurrão da sorte? Não existe levantamento, muito
menos confiável, mas posso afirmar que deverão ser poucos. A pessoa cai na
auto-indulgência, no consumo irrestrito, na acomodação, da qual nenhum
aprendizado sai, ao passo que o trabalho duro traz contenção e riqueza
verdadeira. Como não poderia deixar de ser no TAO, na dialética e no modelo, a
sorte não passa de azar, e vice-versa. Sortudo no fundo é quem trabalha com
vigor e persistência, sem esmorecer. O trabalho é o verdadeiro selecionador de
aptidão para a sobre-vivência.
Vitória,
segunda-feira, 26 de agosto de 2002.
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