terça-feira, 22 de agosto de 2017


Os Alimentadores do Lagoão

 

                            MUITOS RIOS (tudo aparência, tudo mutável)


Esses rios pequenos de agora são supersuperficiais, isto é, estão numa camada ínfima acima da terra; não são rios estruturais, que pertencem mesmo ao desenho da Terra. Vem e vão como sopro do vento. Existem às centenas e desaparecem como se nunca tivessem estado ali. Naturalmente a Vida geral os vê, como nós racionais os detectamos; mas para a Terra mesmo, em sua longa existência, com um segundo valendo mil anos, são sombras que passam sobre a pele.

Ligavam - depois da colocação de terra e areia - as centenas de lagoas geradas em substituição do Lagoão; cruzavam entre umas e outras ou iam para o Rio Doce, que ia para o mar. Deve ter sido um belíssimo cenário, até mais belo do que o Pantanal mato-grossense, porque este tem o defeito dos exageros de tudo que é muito grande, ao passo que o Lagoão era pequeno em relação ao PMG, mas grande para caber quase de tudo. A Vida fez uma festa memorável ali, especialmente no período glacial em que muitos vieram se refugiar no Paralelo 19º, que é o de Linhares, porque no sul estava muito frio. Fugiram e vieram para cá. Então, aqui era tão mais quente que no sul, mas não tanto quanto no norte, o Nordeste de agoraqui no Brasil. Assim, eles festejaram por milhares de anos, o que a computação gráfica vai poder mostrar belamente.

OLHANDO AS SOMBRAS DE PERTO


Imagine esse verde ai de cima coalhado não somente destas que julgamos muitas lagoas, mas de 3, 4, 5, 6 ou mais vezes as quase 70 que existem agora – eram centenas e a Vida brilhava e reverberava em níveis que sequer podemos imaginar.

Ora, o Lagoão era alimentado de início, antes que houvesse o areal e as ilhas formadas, por vários rios estruturais (dentre os quais o maior era o Doce com foz muito recuada de agora, uns 60 a 80 km) que vinham das montanhas e desaguavam à direita no que era o mar de então perto das montanhas de agora.

ALGUNS DOS ANTIGOS (pequenos, mas antigos – não desaguavam no Doce e sim diretamente no mar, antes de haver o Lagoão, antes de haver delimitação à direita, na linha-de-costa atual)


É preciso procurar as páleo-fozes e as protofozes (porque, entre outras coisas, é lá que os páleo-rios depositaram os diamantes), pois o objetivo é aproveitar o trabalho de minerador das bacias feito pelos rios, cada um e em conjunto. Depois de por milênios derramarem no mar passaram a armazenar a água doce do Lagoão; e a trazer terra (enquanto o mar botava areia), resíduos vegetais, restos animais e todas essas coisas. Então, nas páleo-fozes estão representantes fósseis das páleo-vidas das bacias.

Vai daí que esses riozinhos de montanha, pequenos que eram, eram muito interessantes, muito mais que os de planície que foram construídos depois e sobraram para que os víssemos.

Vitória, quinta-feira, 23 de dezembro de 2004.

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