quinta-feira, 24 de agosto de 2017


O Que é o Real?

 

                            No livro de entrevistas de Guitta Pessis-Pasternak, Do Caos à Inteligência Artificial, São Paulo, UEP, 1993, da página 35 à 49 ela entrevista Ilya Prigogine, “arquiteto das ‘estruturas dissipativas’”, como diz a título de apresentação.

                            Na página 45, ele diz: “(...), pois o tempo que vivemos é essencialmente irreversível, enquanto nos objetos físicos simples – um pêndulo ou o sistema planetário – não se vê essa flecha do tempo”.

                            Vê-se, sim, é claro que vemos mesmo. O pêndulo, porque vai e vem entre duas posições, parece não cíclico, mas isso é só espacialmente (aí, até por definição, não haveria tempo; isto é, se apenas fixamos os pontos de máximo de um e de outro lado), já que temporalmente o tempo foi contado. Do mesmo modo no ciclo planetário em volta do Sol; um círculo real não é menos temporalizado, pois ele existe no interior das ocorrências, das coisas que ocorrem, que se transformam, que mudam. Essa é a ordem dos tempos, a mudança. O tempo é a própria definição de irreversibilidade.

                            Mais abaixo ele diz:

                            “Consideremos duas caixas do mesmo tamanho e coloquemo-las em comunicação. Se pusermos 50 partículas em uma caixa e duas na outra, no final de certo tempo haverá 26 partículas em cada uma das caixas. Bom, se isto é a evolução em direção ao equilíbrio, então não há flecha do tempo, pois esperando-se bastante, haverá de novo 50 partículas de um lado e duas do outro, e o sistema reassume sua forma inicial”.

                            Só nas equações. No real, de resto, duvido. O tempo a passar, necessário para tal, seria proibitivo; além disso, teria decorrido justamente tempo. Aliás, seria curioso físicos-estatísticos tentarem calcular a ordem de grandeza de tal período. Essa é justamente a definição de tempo: a irreversibilidade dos arranjos e da condução do mais organizado ao menos organizado (pelo menos pela segunda lei da termodinâmica, que eles sempre pregam como “morte térmica do universo” – isso não existe, porque no interior da descomplicação há uma complicação crescente paralela e em sentido contrário). A transformação de 50 + 2 em 26 como média é justamente o índice da passagem do tempo: isso serviria de relógio, se tivéssemos um ponteiro adequado.

                            Isso que Prigogine disse foi besteira pura.

                            Vitória, sexta-feira, 21 de janeiro de 2005.

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