O Que é o Real?
No livro de
entrevistas de Guitta Pessis-Pasternak, Do
Caos à Inteligência Artificial, São Paulo, UEP, 1993, da página 35 à 49 ela
entrevista Ilya Prigogine, “arquiteto das ‘estruturas dissipativas’”, como diz
a título de apresentação.
Na
página 45, ele diz: “(...), pois o tempo que vivemos é essencialmente
irreversível, enquanto nos objetos físicos simples – um pêndulo ou o sistema
planetário – não se vê essa flecha do tempo”.
Vê-se, sim, é claro
que vemos mesmo. O pêndulo, porque vai e vem entre duas posições, parece não
cíclico, mas isso é só espacialmente (aí, até por definição, não haveria tempo;
isto é, se apenas fixamos os pontos de máximo de um e de outro lado), já que temporalmente
o tempo foi contado. Do mesmo modo no ciclo planetário em volta do Sol; um
círculo real não é menos temporalizado, pois ele existe no interior das
ocorrências, das coisas que ocorrem, que se transformam, que mudam. Essa é a
ordem dos tempos, a mudança. O tempo é a própria definição de irreversibilidade.
Mais abaixo ele diz:
“Consideremos duas
caixas do mesmo tamanho e coloquemo-las em comunicação. Se pusermos 50
partículas em uma caixa e duas na outra, no final de certo tempo haverá 26
partículas em cada uma das caixas. Bom, se isto é a evolução em direção ao
equilíbrio, então não há flecha do tempo, pois esperando-se bastante, haverá de
novo 50 partículas de um lado e duas do outro, e o sistema reassume sua forma
inicial”.
Só nas equações. No real,
de resto, duvido. O tempo a passar, necessário para tal, seria proibitivo; além
disso, teria decorrido justamente tempo. Aliás, seria curioso
físicos-estatísticos tentarem calcular a ordem de grandeza de tal período. Essa
é justamente a definição de tempo: a irreversibilidade dos arranjos e da
condução do mais organizado ao menos organizado (pelo menos pela segunda lei da
termodinâmica, que eles sempre pregam como “morte térmica do universo” – isso
não existe, porque no interior da descomplicação há uma complicação crescente
paralela e em sentido contrário). A transformação de 50 + 2 em 26 como média é
justamente o índice da passagem do tempo: isso serviria de relógio, se
tivéssemos um ponteiro adequado.
Isso que Prigogine
disse foi besteira pura.
Vitória,
sexta-feira, 21 de janeiro de 2005.
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