terça-feira, 20 de junho de 2017


Campo de Concentração

 

                            Desde o fim da URSS em 1991 conforme previ a flecha azul, não encontrando mais oposição, fez o Ocidente capitalista ampliar ainda mais a concentração de renda em toda parte, em especial no Brasil. Os índices ou apontamentos disso são tanto diretos quanto indiretos.

                            Direta é a medição da FIBGE (Fundação IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de que os 13 % da renda em posse do 1 % mais rico agora se encontram em mãos de 0,6 %, quase dobrando, 0,40/0,60 = 67 %. Indireta é a notícia da Rede Gazeta, por meio do chocadíssimo reporter-editor Abdo Chequer de que 85 % (ele disse e repetiu várias vezes duas manhãs) dos brasileiros não conseguem atravessar o mês inteiro com dinheiro para pagar as contas. Para quem não acompanha as estatísticas isso é apenas um primeiro susto, mas para quem segue devemos reportar que haviam 20 % de ricos e médios-altos (5 % de ricos e 15 % de médios-altos) e agora há só 15 %, quer dizer, encolheu 5 % ou ¼ ou 25 % de 20 %.

                            Multiplicando os dois índices, 25 % x 67 % (1,25 x 1,67 = 2,09) obtemos um novo indicador que diz que a concentração mais que dobrou (nalguma métrica a ser apurada): a) 25 % de ricos e médios-altos - mais para os lados dos últimos, pois é estatístico - ou 5 % deles no total da população perderam as prerrogativas e são novos-médios; b) 0,4 % de muito-ricos são apenas ricos agora. Quase toda a coletividade brasileira está descendo das posições que detinham e pela primeira vez os médios-altos e os ricos estão sendo feridos pelo novo movimento concentracionista, a nova concentração de rendas e finalmente de posses.

                            O Brasil não é um campo de concentração à alemão-nazista, mas é um campo bem evidente de concentração de rendas. Nem toda concentração é dos corpos, as mentes também sofrem. O Brasil é bem notavelmente um experimento favorável às concentrações elitistas. Superfavorável, aliás.

                            Vitória, sábado, 22 de maio de 2004.

Nenhum comentário:

Postar um comentário