Bolha de
Cristal
Diremos
que a bola de cristal das lendas e da Magia era um programáquina muito
especial, como vou sugerir.
Enquanto
programa era a programação, o programa-em-ação, que fazia aparecer resultados e
que estava remotamente ligado a Deus mesmo, pois Adão o havia trazido do
planeta Paraíso ou Éden. Ele não precisava de um transmissor remoto, como as
TV’s atuais, que tem um emissor que filma no local e remete a imagem por vários
caminhos até o receptor na Rede, que o encaixa na grade de programação e o
reenvia até os receptores em casa ou onde for. No caso da bola de cristal a
programação enviava um módulo até o local desejado, qualquer que fosse na
atmosfera, ao nível do solo, dentro d’água, dentro da terra ou no espaço
exterior, até um certo limite, criando uma bolha em volta, cada ponto da
superfície interna dela emitindo então para a bolha física, que mostrava as
imagens em volta. Assim, a bolha de origem, qualquer que fosse seu tamanho,
aparecia sempre no volume fixo da bolha material. Era o palantir de O Senhor dos Anéis e a bola de cristal
dos mágicos.
O
objeto em si mesmo era apenas uma bolha exterior que nada significava, porque
era apenas a tela (na superfície esférica) do que chegava de longe e era ali
depositado pelo dispositivo que estava na base. Era como uma lâmpada, um bulbo
cujo significado era perto de zero, pois embora difícil de fabricar era o tubo
do televisor. Enquanto o aparelho da base sim, esse era importante, fundamento
de tudo, porque mais que reemitir ele era todo o processo que atualmente se
divide em três partes: 1) câmara de filmagem, 2) emissora-reemissora, 3)
televisor.
Mas
o mais interessante era que ao se fixar no alvo, caso fosse um racional,
reemitia as imagens que estavam fora, o que parece duplicação e é a origem
desse fenômeno, o dèjá vu (já vi, do francês), em que a consciência tem certeza
de ter vivido aquele momento. De fato, viveu mesmo, pois uma primeira imagem
chegou e foi registrada no cérebro. Depois uma segunda imagem entrou, porque
aprisionada e refletida pela bolha; e é imagem integral, pois sendo esfera vêm
de todos os lados. É possível que esse mecanismo ainda esteja sendo usado pela
Grande Nave, razão pela qual algumas pessoas de vez em quando sentem essa
impressão funda de já terem vivido o momento. Não viveram, mas como a bolha
reemite, parece ser assim. Acho que a GN está fotografando o tempo todo pessoas
isoladas.
O
mecanismo de base em si mesmo é muito compacto e poderoso, uma estação inteira
de TV num espaço mínimo, a ponto de a imagem que temos nas lendas ser de bola
de cristal, apenas o bulbo em cima. Quem não gostaria de colocar as mãos nela?
Se pudesse ser reproduzida seria o TV tridimensional mínimo, num volume
minúsculo, podendo acessar o mundo inteiro. Em compensação ninguém estaria mais
tranqüilo, dado que a intimidade de todos e cada um seria violentada
inapelavelmente. Os governos teriam de achar um modo de coibir as manifestações
dos bisbilhoteiros. Já pensou todo mundo olhando todo mundo? E os governos teriam
liberdade de xeretar os cidadãos e uns aos outros? Acho que essa coisa faria
mais mal que bem.
Vitória,
terça-feira, 18 de maio de 2004.
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