Bodega,
o Insubmisso, e Valente, o Irritadiço
Quando
tinha três anos ganhei em Burarama, Cachoeiro de Itapemirim, um basset, que
viveu 18 anos até meus 21; porque na época falava-se muito do Príncipe Valente
e o cachorro era valente, irritadiço, arrojado, deram-lhe o nome de Valente.
Pequenininho e audacioso, extraordinária valentia em tão pequena dimensão.
Depois,
em Linhares apareceu em nossa porta um cachorro muito feio, eu já tinha 13 ou
14 anos e lia muito. Que nome dar? Como ele tinha cara que se parecia com de
buldogue, esse nome me veio à cabeça. Mas parecia malfeitor (não era, era como
criança cheia de curiosidade), de modo que associei a mal-antro (donde veio a
palavra malandro), antro-ruim, local de má-fama, boteco, de modo que BOTECO +
BULDOGUE deu BODEGA.
BODEGA NA INTERNET: do Lat. apotheca < Gr. apothéké, depósito s. f., taberna ordinária, tasca; comida mal
feita; casa suja; porcaria; Brasil, pequeno armazém de secos e molhados.
Pobre
animal, feio e ordinário, vira-lata, mas nós o amávamos. Como já contei várias
vezes, a insubmissão dele impelia que ele saltasse a cerca e fosse ao quintal
de algum vizinho, onde lhe deram uma bola de carne com vidro moído dentro, uma
das mortes mais terrível, o cachorro adulto urrava de dor. Acho que o mundo é
uma bodega e que aquele pobre animal foi pego no mal-antro da Terra. O Valente,
como já contei também, era maltratado pelos meus parentes, porque já velho
tinha muitas feridas ou perebas, o pelo caía, estava velho e abandonado.
Que
triste é o mundo!
Nunca
mais tive animais, nem um, nem qualquer, e para sempre desconfiei da
humanidade. Acho que aqueles animais, na pequenez de suas mentes, foram mais
amados por mim que uma parte grande das pessoas que conheci e que cometeram
todo gênero de atrocidades, como se pode ver diariamente: tanto maus-tratos aos
animais quanto a outros humanos, inclusive os indefesos, como as crianças.
Que
mundo tão triste e desprezível!
Vitória,
quinta-feira, 20 de maio de 2004.
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