terça-feira, 20 de junho de 2017


Bodega, o Insubmisso, e Valente, o Irritadiço

 

                            Quando tinha três anos ganhei em Burarama, Cachoeiro de Itapemirim, um basset, que viveu 18 anos até meus 21; porque na época falava-se muito do Príncipe Valente e o cachorro era valente, irritadiço, arrojado, deram-lhe o nome de Valente. Pequenininho e audacioso, extraordinária valentia em tão pequena dimensão.

                            Depois, em Linhares apareceu em nossa porta um cachorro muito feio, eu já tinha 13 ou 14 anos e lia muito. Que nome dar? Como ele tinha cara que se parecia com de buldogue, esse nome me veio à cabeça. Mas parecia malfeitor (não era, era como criança cheia de curiosidade), de modo que associei a mal-antro (donde veio a palavra malandro), antro-ruim, local de má-fama, boteco, de modo que BOTECO + BULDOGUE deu BODEGA.

BODEGA NA INTERNET: do Lat. apotheca < Gr. apothéké, depósito s. f., taberna ordinária, tasca; comida mal feita; casa suja; porcaria; Brasil, pequeno armazém de secos e molhados.

                            Pobre animal, feio e ordinário, vira-lata, mas nós o amávamos. Como já contei várias vezes, a insubmissão dele impelia que ele saltasse a cerca e fosse ao quintal de algum vizinho, onde lhe deram uma bola de carne com vidro moído dentro, uma das mortes mais terrível, o cachorro adulto urrava de dor. Acho que o mundo é uma bodega e que aquele pobre animal foi pego no mal-antro da Terra. O Valente, como já contei também, era maltratado pelos meus parentes, porque já velho tinha muitas feridas ou perebas, o pelo caía, estava velho e abandonado.

                            Que triste é o mundo!

                            Nunca mais tive animais, nem um, nem qualquer, e para sempre desconfiei da humanidade. Acho que aqueles animais, na pequenez de suas mentes, foram mais amados por mim que uma parte grande das pessoas que conheci e que cometeram todo gênero de atrocidades, como se pode ver diariamente: tanto maus-tratos aos animais quanto a outros humanos, inclusive os indefesos, como as crianças.

                            Que mundo tão triste e desprezível!

                            Vitória, quinta-feira, 20 de maio de 2004.

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