Aquele Dia
no Pé do Morro
Depois da migração
daquele contingente imenso por terra e por mar, a cavalo, com camelos, com
elefantes, de barco, com auxílio de todo tipo de animal e máquina de transporte
o Consórcio finalmente chegou à Cidade Celestial e acampou ao pé dela, em volta
do monte Adão, no sopé do morro central na planície. O espetáculo era bonito de
se ver em sua trágica dimensão, preparação do fim: infindáveis companhias e
tropas, desproporcionais às forças internas, estavam espalhadas naquele campo
de aluvião que foi se formando ao longo de dois mil anos.
Era
difícil de contar, mais de um milhão de indivíduos ataviados, vestidos com
armaduras brilhantes que foram preparadas por anos, décadas e até séculos, para
os atlantes de vida longa. E eram armaduras vindas de todos os cantos da Terra,
inclusive da China, para onde tinham sido desterrados os aliados dos Puros
depois da Guerra do Alcance em 2,45 mil a.C. Uma parafernália espantosa em cor
e diversidade, realmente o maior espetáculo da Terra em todos os tempos, porque
os contingentes contemporâneos, embora maiores, não se reuniram nunca num lugar
só nem para exibição, nem fazem questão as tropas atuais de se colorirem, pelo
contrário, querem passar despercebidas, disfarçam-se. Naqueles tempos as
armaduras eram como declarações de existência, como o carro de hoje, só que
conferindo status maior, porque eles viviam num mundo muito mais pobre. Iam
viver e morrer com a vestimenta, razão pela qual cuidavam dela com desvelo e
carinho e cada rei, julgando-se especial servo do Senhor (de Adão e de Deus)
numa missão de reeducação dos Impuros fazia de tudo para dotar seus comandados
das mais brilhantes armaduras de ouro, de prata, de platina, de ligas variadas,
com pedras preciosas, com desenhos espantosos – nunca, nem antes nem depois, se
viu algo nem parecido. E os de dentro, então, que dispunham de máquinas que os
de fora não tinham podido levar e de conhecimentos que só operavam através
delas, faziam mais e melhor, se esmeravam incomparavelmente mais. Foi não
apenas uma disputa de audácias guerreiras como de orgulhos formais, expressos
por imagens incomparáveis. Nem de longe os que vieram depois fizeram algo de
parecido. Nem de longe. A Montanha Iluminada brilhava e a planície mais ainda.
Foi o dia mais belo de toda aquela guerra e talvez o único. Todo aquele lugar
em volta de Uruk resplandecia formidavelmente.
Nem
parecia guerra e sim um desfile de gala.
Mas
os resultados para o mundo não foram nada bonitos.
Vitória,
terça-feira, 18 de maio de 2004.
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