O Que Aquele Bêbado
Falou de Mim?
Bebi dos 13 aos 48,
por 35 anos consecutivos, no final parando períodos antes de acabar de uma vez
com isso. Mesmo depois, já sabendo quase estava com glicose alta, de 1992 a
2002, por 10 anos ainda continuei tomando a cada dois dias pelo menos seis
cervejas, o que quer dizer (10 x 365) /2 = 3.650/2 = 1825, daí 1,8 mil x 6,
quase onze mil cervejas, quase 460 grades. Depois de um certo tempo para frente
me fixei nas cervejas e deixei as bebidas quentes.
Bêbado, fiz coisas
bem tristes mesmo.
A gente costuma
dizer que estava fora de si, mas eu não, sei perfeitamente que é apenas uma
versão que estava pela consciência dominada e na falta desta se arvorava e se
apresentava à tona. Fiz coisas de que me lembro e outras de que não me lembro.
Fiz coisas desagradáveis. Aquele eu inconsciente falou deste eu consciente.
Presumo que é porisso mesmo que a bebida é socialmente tolerada, pois deve
haver um índice de vazão do tanque de repressões. Se a bebida é tolerada é
porque a alternativa, de reprimir completamente, É MUITO PIOR, levando a
conseqüências muito nefastas.
Quando as pessoas
dizem que estavam fora de si é que aquela é uma versão de si que elas recusam
enfrentar, que tentam esconder. Quando nós bêbados falamos de nós não-bêbados
temos muitas coisas interessantes a dizer e seria importante filmar, para nos
vermos com a outra personalidade, a de fachada, que é também real, a de
compromisso, digamos assim. Como somos quando não estamos compromissados com o
aparato socioeconômico? Como somos quando não estamos fingindo a dignidade
instituída? Acho que os psicólogos deveriam filmar festas - com o consentimento
dos presentes, é claro. Fazer pesquisa & desenvolvimento teórico &
prático, investigar mesmo profundamente, realizar congressos, fazer palestras,
porque os resultados disso podem ser importantes no sentido de ver quão tensa
está a coletividade: essas outras versões das almas dizem que as versões
expostas estão sentindo falta do quê?
Vitória,
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2004.
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